Desenhar um poema no teu peito
Um sol que atravessa esta
manhã de verão, o brilho fresco dos raios solares rompendo pelas frestas da
janela, espalhando-se pelo soalho do quarto, beijando-te o corpo adormecido
sobre a cama arrumada num desalinho morno e matinal. A noite ainda é uma sombra
que resta e que se protege na profundidade serena e terna dos teus olhos, a tua
respiração o ritmo suave de uma valsa inglesa a evoluir pelo dia acima, sem
coreografia certa e sem nenhuma pressa, a música muito lenta.
À ponta leve dos meus dedos
prendo o mais fino raio de sol que se encaminha para o teu corpo, exposto às
carícias do sono a que ainda tu te entregas. É pelo teu pé desnudo, pequeno
como se usasses sapatos de cristal, que tomam forma o carinho todo de que
nascerá o beijo que depositarei sobre a sensualidade dos teus lábios
entreabertos e as palavras com que desenharei um poema no teu peito. Um poema
inteiro, só teu, com a dimensão do dia e a medida maneira do peito onde guardas
um coração ardente e meigo com que te entregas à descoberta.
Um poema que desenharei
letra a letra, cada palavra um caudal de ternura, sem medida, um longo rio,
sublime de águas transparentes e de sentimentos intensos, Nilo e Amazonas no
mesmo continente, nenhum deserto, nenhuma floresta virgem, só verde e esperança
que fossem crescendo até à foz, um delta imenso, a perder de vista. Um poema
que te expusesse por inteiro à magia da luz vespertina de setembro, os lábios
húmidos, o olhar grávido de ternura e de desejo, o corpo num requebro de quem
finalmente se sentiu desperto e feliz, as estrelas brilhando num céu limpo de
nuvens, a lua cheia enchendo o horizonte.
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