Dia mundial da criança
Crianças somos todos nós,
desejo e esperança, ontem, hoje, amanhã, sempre. Águias imperiais de voo largo,
asas abertas pintadas de verde, acima de todas as altitudes, Everest ou
Kilimanjaro, regaço de todas as mães, berço de todas as latitudes. Choro magoado
e riso estridente afiado nos dentes, sentido na queda das lágrimas de sal marinho
e dores de barriga, exames escolares, fome sem adjectivos. Navegadores
escandinavos de todas as épocas, sulcando oceanos de polo a polo, a alegria na
ponta da língua, o sonho na palma da mão e um brilhozinho nos olhos inquietos e
curiosos.
Mãos vazias de armas e de violência,
irmãos fraternos de todos os destinos e de todas as cores, união solidária de
todas as necessidades básicas e ignoradas, tropeção dos primeiros passos, o
apoio das pernas das mães para evitar a queda, sempre presentes nas savanas de
África, o continente alargando-se a todas as longitudes, as mãos dadas para o
futuro, coração pulsando desde o ventre materno, seguro e certo, como se a
incerteza fosse apenas um conjunto de nove letras e não quisesse dizer presente
nem futuro.
Declaração dos direitos da
criança, uma manifestação de intenções, tantos anos, nada mais do que isso, nem
reciclagem nem o saltinho nervoso dos pardais. A dignidade é uma palavra de
dicionário, o nascimento um berço dourado aqui, um tecto semeado de estrelas
mais além, abrigo sob um imbondeiro, o céu aberto. O alimento o resultado do
trabalho de cientistas e a falta de uma moeda que garanta a vida que se esgaravata
nos restos que apodrecem. A saúde e a instrução, dialectos incompreensíveis que
se não falam e que se não entendem. A criança tem direito e mais que um dia e a
mais que uma declaração escrita a cor de rosa numa folha de pergaminho. Tem
direito a uma vida!
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