A cidade nasce-te dos pés
Com a lua nova perdida na
noite escura, a cidade sem nome nasce-te dos pés, liberta-se da muralha,
escorre pela encosta, salta a avenida e projecta-se no espelho perfeito das
águas quietas da baía, onde dormem os peixes e os sonhos. Não digas nada, dá-me
a tua mão e a força do teu silêncio. Deixa que te adivinhe todas as palavras e
todos os gestos, as luzinhas longínquas dos navios que se aproximam do porto,
segredando-nos todos os anseios de futuro, a certeza do teu olhar inquieto
percorrendo o horizonte.
A noite tropical, nuvens
baixas tocando a linha marítima onde os navios se sustentam, mais de trinta
graus, a humildade a escorrer-nos pelas costas, o linho da camisa encharcado, a
lua já a caminho do quarto crescente. No suor que te enche a palma da mão um
mundo inteiro de ansiedade, o sangue que te circula por veias e artérias, o
desejo quente de um abraço que te desnude para o fresco doce da madrugada onde
as nossas mãos chegarão de dedos entrelaçados e trementes.
Vamos atrás da noite e dos seus
mistérios, que inundam de uma brisa fresca as areias da praia, sem murmúrio nem
ruído. Nem ondas, só o silêncio da espuma branca que te chega aos pés de onde a
cidade nasce desde o cume da colina. Falta ao céu o azul e as cores que enchem
a superfície das águas, sobrando as mãos entrelaçadas e o escuro que te desnuda
e te refresca quando já cheira a madrugada. Não precisámos de palavras nem de
gestos para que ambos fôssemos um só abraço e um só destino, com a alvorada a anunciar-se
a oriente. Porque o sol nasce sempre a oriente!
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