Vou pelo sol claro desta manhã
Vou
pelo sol claro desta manhã de primavera como quem vai serenamente pela
suavidade do teu corpo, que a ternura morna da noite confiou ao amplexo dos
meus braços, toque a toque. Dormes ainda, confiante e tranquila, os cabelos
meio em desalinho, os olhos cerrados, o contorno dos lábios desenhado com a
beleza dos raios solares que te chegam pelas frinchas das persianas da janela.
Pouso-te
suavemente a mão sobre a cabeça e lentamente afago-te os cabelos sedosos, com
receio de que o gesto possa despertar-te e a certeza definitiva de que te quero
assim, inteira e completa, como se tu fosses toda a primavera que explode no
verde novo da folhagem nos ramos altos dos plátanos nas alamedas e as papoilas
vermelhas de vida que hão-de polvilhar as ervas rasteiras que se estendem pelos
campos, cheirando a hortelã e maresia.
Continuas
com a respiração quieta e silenciosa de quem está ausente na terra dos sonhos,
nem cedo nem tarde, nem oriente nem ocidente, o corpo desnudo sob a transparência
nítida dos lençóis que te protegem de todos os olhares com que te percorro todo
o corpo e de quantos desejos possas sugerir, quando devagar te acomodas às
horas altas da manhã e ao sono solto de que hás-de despertar. Quando o sol for
mais alto.
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