8 de junho de 2015

Não chega que o sonho comande a vida

Não chega que o sonho comande a vida, não chega que a água cristalina dos regatos jorre das nascentes, não chega que os rios encorpem o caudal e corram para o mar. É preciso que a vida se confunda com o sonho, realidade e utopia, um vendaval de cabelos soltos esvoaçando ao vento como bandeiras desfraldadas em cada manhã. É preciso que a água cristalina alimente as fontes de granito, abandonadas e secas, como emoções que não inundam os olhos magoados e sentidos. É preciso que o oceano suba pelo leito dos rios, sal e água doce, peixe e alimento, certeza mais do que esperança, o pão a nascer nas savanas de África.

Não chega que o teu olhar sereno e tranquilo, carregado de promessas, se conforme com a beleza simétrica que os espelhos te devolvem. É preciso que o sintas pulsando ao ritmo a que te bate o coração, vida e sentimento, a blusa cedendo à firmeza com que se te ergue o peito pleno de ternuras. Não chega que se te crispem as mãos, os dedos entrelaçados, os lábios cerrados e sem pintura, a bússola sem se deter, procurando o norte. É preciso que as mãos se te encham de flores e de certezas, desenhando cada curva suave do teu corpo como se retocasse uma obra-prima que nenhum artista foi ainda capaz de reproduzir.


Não chega que o teu sorriso procure a cor indefinida dos meus olhos e me encha os pulmões do oxigénio com que vou somando os dias, como se fosse um convite para a descoberta de quantos brasis ainda há por revelar nas dobras de cada mapa. É preciso que a tua boca sejam só palavras sussurradas ao ouvido, o perfume inconfundível do teu corpo a preencher-me cada poro, os teus dedos soltos e esguios a desenhar afectos no emaranhado dos meus cabelos e no fogo incandescente do teu desejo.

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