São intermináveis as horas
São intermináveis e longas
as horas que o sol leva a chegar de oriente, onde nascem a vida e todos os
sonhos, a ocidente, onde a noite alimenta todas as esperanças e todas as
madrugadas, quando o crepúsculo o esconde no mar, além da linha indefinida do
horizonte. São tempos de espera, a ansiedade crescente, a dor sem medida nem
localização, como se a alma me tivesse sido atravessada pelo gume infalível de
um punhal, do tamanho deste ângulo raso que não cede nem a receitas nem a
remédios que se vendem nas farmácias.
O nada te trouxe do vazio,
sem corpo e sem aviso prévio, um riso permanente saltando-te do olhar, uma
disposição que encheu os campos verdes do vermelho rútilo das papoilas,
acenando aos dias de verão que se aproximam. A noite te vestiu e te deixou a
flutuar ao sabor da imaginação com que te sonho, os braços abertos para o
abraço, a boca sequiosa para o beijo, envolta nos crepes que a pouca luz da lua
nova e a distância das estrelas deixaram disponível para o silêncio. E as
palavras sucederam-se com a mesma frescura com que a água cristalina corre das
nascentes que brotam das montanhas.
Com o sol alto, nem a mais
ligeira brisa que agitasse a caruma na copa dos pinheiros e trouxesse o perfume
macio das glicínias que te nascem dos cabelos e te cobrem a frágil nudez dos
ombros. Não sabe a nada este ar quente e poluído que me enche as narinas e me
morre no cansaço dos pulmões, o passo inseguro e sem destino. Até que chegues
de novo pela noite, com o mesmo horário irregular a que os comboios se
imobilizam nos cais das estações e eu vá ao teu encontro, a dar-te uma mão
cheia de ternura.
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial