Uma abelha na chuva
…
Por hábito, lançou os olhos
às colmeias, que lhe ficavam mesmo em frente, dez ou doze metros, se tanto, e
viu uma abelha voar da Cidade Verde. Baptizava as colmeias conforme as cores de
que as pintara, Cidade Verde, Cidade Azul, Cidade Roxa. A abelha foi apanhada
pela chuva: vergastadas, impulsos, fios do aguaceiro a enredá-la, golpes de
vento a ferirem-lhe o voo. Deu com as asas em terra e uma bátega mais forte
espezinhou-a. Arrastou-se no saibro, debateu-se ainda, mas a voragem acabou por
levá-la com as folhas mortas.
[Carlos de Oliveira, in “Uma
abelha na chuva”. Um grande escritor, uma obra de referência na literatura
portuguesa do século XX.]
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