10 de abril de 2021

Política e justiça

 

Até ontem a política descredibilizara-se progressivamente, ao longo dos anos. As taxas de abstenção foram subindo com cada acto eleitoral e os candidatos foram sendo eleitos pelas suas famílias genéticas e partidárias, assobiando para o lado e mantendo o olho atento sobre os saldos crescentes das suas contas bancárias. Nunca se questionando nem sobre o aumento da abstenção nem sobre a representatividade dos votos expressos.



A partir de ontem a justiça acompanha a política no mesmo pântano em que ambas chafurdam. Não porque um só juiz tenha, ao longo de mais de treze resmas de papel e de 6728 páginas, escolhido uma elite de 5 arguidos entre um universo de 28. Tão pouco porque somente tenha selecionado os dezassete melhores crimes entre um largo cabaz de 189. Mas pelo que isso literalmente significa.

Entre prisões preventivas, prisões domiciliárias, termos de identidade e residência e quejandos, o processo, as investigações, as buscas, as diligências internacionais, a instrução e a acusação do ministério público levam mais de seis anos. E não foram monopólio de apenas dois juízes e de um só procurador; envolveram seguramente inúmeros especialistas, investigadores, amanuenses e auxiliares. Madraços, negligentes, incompetentes, bêbados e absolutamente inúteis. Nenhum deles foi capaz de concluir que um crime prescrevera, que uma escuta fora realizada sem despacho de autorização, que um flagrante se constatara pelo buraco da fechadura!

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