O confinamento
Hoje, domingo, entre as 12 e
as 13 horas a Foz do Douro era uma festa. O mar, quase raso, rebrilhando ao
sol, desconfinado de todo, de águas abertas. Na frente marítima, a azáfama do
costume, com a pérgula previdentemente recolhida atrás do slogan único que o
doutor Moreira, vizinho próximo, inventou produtivamente em dois mandatos, sem
supérfluos agradecimentos ao quase doutor Xicão, de momento ocupado com a
definição do seu lugar na lista dos candidatos à marcha do Alto de Pina.
Crianças de triciclo, outras,
menos crianças, de bicicletas infantis, os cabelos soltos, esvoaçando ao sabor
da brisa, bracinhos desconfinados, o nariz arrebitado para nascente, onde já o
sol subiu alto. Jovens raparigas adolescentes desconfinando a promessa de seios
erectos, às vezes ainda remota e reduzida. Jovens másculos de ideias,
promovendo o Rambo, descofinando algum músculo nas cochas ameaçando revestir-se
de pelos, exibindo os calcanhares e os joelhos. Mais velhos ou mesmo só velhos,
catalogados como idosos, desconfinando as pernas, saindo dos calções, estugando
o passo, ultrapassando o ritmo da marcha, sempre com um pé no chão e alguma
virilidade ao dependuro.
Na brisa breve e ensolarada,
a omnipresença celestial do senhor Zuckerberg e da bolsa de Nova Iorque,
vigilantes e atentos, temendo pela queda das cotações e pela subida do
enigmático RT, já explicado duas centenas de vezes, no âmbito do direito
romano, por sua excelência o jubilado professor Marcelo, ausente da final do
torneio de Rolland Garros, devido à crise da Covid e à falta de dívidas
pessoais de muito ilustres comendadores da nossa praça e da quinta da bacalhoa,
colheita de 2015 ou anterior. Nádegas desconfinadas, nádegas de verdade,
robustas e férteis, a par com mamas que se mostram à premonição primaveril. Uma
heterogénea multidão, respeitando a igualdade de género, o atropelo à distância
de segurança e à projecção da sacana da gripezinha com que se debatem ainda o
Brasil e o Palácio do Planalto, para perturbar o sono solto do jagunço presidente.
Não é assim que vamos
santificar o bispo do Porto senhor Dom António, ó doutor Moreira, mesmo num seu
terceiro mandato, com ou sem edifícios erguidos à sombra da ponte da Arrábida,
apesar da sua assinatura de cruz: Porto ponto. Nem, tão pouco, incluir nas
colectâneas os heroicos feitos do explorador do Brasil, doutor João
aristocraticamente de Loureiro, apanhado sem asas em pleno voo, como um
periquito amestrado. E pronto, é ver a festa, o mar a rir-se ao ouvir o doutor
Rio a falar alemão, mesmo quando imita a pronúncia do norte e desafina uma
oitava abaixo do senhor Reininho.
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