Dia da Mãe
Mãe, com que fervor e com
que fé tenho rezado cada letra do teu nome. Com o mesmo sorriso estampado na
face te tenho estendido a bengalinha frágil, oferecido o apoio submisso do meu
braço e retardado o passo para que nos mantenhamos lado a lado. Cumpro cada
momento dos nossos dias como se fosse uma ladainha e quando chego há sempre
aquela marcha alegre, como se uma banda tocasse no jardim para me dar as boas
vindas. Para além da porta por onde entro há sempre o teu sorriso enchendo a
sala, como se mais nada nem mais ninguém pudesse caber nela. E faltam-nos
sempre as palavras que ambos ensaiamos durante os dias da semana, basta-nos a
alegria do sorriso e o apetitoso sabor das lágrimas.
Sentamo-nos à mesma mesa da
mesma taberna, a um canto da sala escondida na cave de uma moradia de gente
abastada da cidade. Perguntas-me como ali cheguei, se moro longe e não conheço
ninguém nestas paragens, nem aldeias nem pessoas. Vais saboreando o pão e
gabando a broa, enquanto te retalho o queijo fresco no prato raso e o olhar te
brilha percorrendo cada pedra das paredes. Entendemo-nos tão bem que não
precisamos de palavras, mesmo que reproves a insistência com que te vou
servindo o almoço e enchendo a paciência. Mas sorris sempre e sabes que, como
te repito, é isso que te vale.
Deambulamos serra acima como
se, ainda criança, lhe percorresses os caminhos até ao alto, o vestidito de
chita esvoaçando-te sobre o corpito de menina, correndo para acompanhares o
passo largo das mulheres. Quedamo-nos à sombra de uma oliveira carregada de
flor, toda a serra estendendo-se à nossa frente. Enches de memórias todo o
vasto horizonte que parece só nosso, um melro de bico amarelo salta sobre o
muro baixo, a tua vida é um filme que tem a lotação esgotada e são só nossas
todas as legendas. É tão vasto o teu sorriso que não me cabe na carteira, não
tenho notas que o substituam, só nós ambos lá cabemos.
À noite, quando o fresco
desce, aconchego-te a roupa ao corpo magro, passo-te a mão desajeitada sobre a
face enrugada, deponho-te na testa um beijo agradecido e carinhoso. Sorris. E dormes.
Mesmo na eternidade do teu sono é seguro e certo que continuarei a amar-te
tanto, que continuarei a amar-te sempre!
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