3 de maio de 2020

Dia da Mãe


Mãe, com que fervor e com que fé tenho rezado cada letra do teu nome. Com o mesmo sorriso estampado na face te tenho estendido a bengalinha frágil, oferecido o apoio submisso do meu braço e retardado o passo para que nos mantenhamos lado a lado. Cumpro cada momento dos nossos dias como se fosse uma ladainha e quando chego há sempre aquela marcha alegre, como se uma banda tocasse no jardim para me dar as boas vindas. Para além da porta por onde entro há sempre o teu sorriso enchendo a sala, como se mais nada nem mais ninguém pudesse caber nela. E faltam-nos sempre as palavras que ambos ensaiamos durante os dias da semana, basta-nos a alegria do sorriso e o apetitoso sabor das lágrimas.


Sentamo-nos à mesma mesa da mesma taberna, a um canto da sala escondida na cave de uma moradia de gente abastada da cidade. Perguntas-me como ali cheguei, se moro longe e não conheço ninguém nestas paragens, nem aldeias nem pessoas. Vais saboreando o pão e gabando a broa, enquanto te retalho o queijo fresco no prato raso e o olhar te brilha percorrendo cada pedra das paredes. Entendemo-nos tão bem que não precisamos de palavras, mesmo que reproves a insistência com que te vou servindo o almoço e enchendo a paciência. Mas sorris sempre e sabes que, como te repito, é isso que te vale.

Deambulamos serra acima como se, ainda criança, lhe percorresses os caminhos até ao alto, o vestidito de chita esvoaçando-te sobre o corpito de menina, correndo para acompanhares o passo largo das mulheres. Quedamo-nos à sombra de uma oliveira carregada de flor, toda a serra estendendo-se à nossa frente. Enches de memórias todo o vasto horizonte que parece só nosso, um melro de bico amarelo salta sobre o muro baixo, a tua vida é um filme que tem a lotação esgotada e são só nossas todas as legendas. É tão vasto o teu sorriso que não me cabe na carteira, não tenho notas que o substituam, só nós ambos lá cabemos.

À noite, quando o fresco desce, aconchego-te a roupa ao corpo magro, passo-te a mão desajeitada sobre a face enrugada, deponho-te na testa um beijo agradecido e carinhoso. Sorris. E dormes. Mesmo na eternidade do teu sono é seguro e certo que continuarei a amar-te tanto, que continuarei a amar-te sempre!


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