4 de agosto de 2020

Boletim Cultural do Huambo Nº 2

O segundo número do Boletim Cultural do Huambo foi publicado em Dezembro de 1949, ano em que a cidade assinalou o seu 37º aniversário. Foi composto e impresso na Gráfica do Planalto, Lda, um marco nas artes gráficas e na informação da região, como proprietária do jornal periódico O Planalto, à altura “A Voz do Planalto” – e não sei se, à época, por lá já ou ainda andaria o pai do nosso amigo Manuel Seiça. Tem oitenta e duas páginas, considerando capa e contracapa, e colaboração variada. A partir da página setenta a edição é composta por publicidade de firmas que fazem parte do imaginário dos mais velhos e que, naturalmente, foram importante suporte financeiro do projecto. Não resisto a referir alguns dos nomes como, por exemplo, A Mutualidade, a Cooperativa a Nossa Casa, Eurico de Carvalho, Ferreira Bastos, Zuid – Casa Holandesa (publicitando “artigos para europeus e indígenas”), Alexandre dos Santos (publicitando a “permuta com o gentio”), Marta da Cruz, Farmácia Ultramarina (anunciando a “penicilina em comprimidos”), União Ciclista (com as bicicletas Humber e outras) e Robert Hudson (divulgando o famoso “Lifebuoy – o sabão preferido para a higiene”) entre outras.


A colaboração é variada, desde “A organização e exercício do poder entre os Uambos (sic)”, da autoria de Francisco Amaro, Estudos antropológicos no Huambo, de Alexandre Sarmento, os sumários das comunicações apresentadas às Primeiras Jornadas Agronómicas de Angola, realizadas na cidade em Maio anterior, salientando-se as dos engenheiros António Mendes da Ponte (engenheiro agrónomo da Junta do Café Colonial) e Augusto Manuel Sardinha (engenheiro silvicultor chefe da 2ª Zona Florestal).

O concurso literário teve a sua segunda edição e por unanimidade, sem necessidade do voto de qualidade do Director dos Serviços Culturais do Município, o júri premiou obras concorrentes nas modalidades de Conto ou Novela, Soneto, Poesia Lírica e Quadra. Detenho-me intencionalmente na Poesia Lírica, em que não foi atribuído o primeiro prémio, tendo o segundo sido atribuído a António Jacinto do Amaral Martins, de Luanda. António Jacinto tinha, por essa altura, 25 anos de idade. O seu percurso fez dele um dos nomes mais importantes da poesia angolana (recordemos, por exemplo, “A Carta de um contratado”), um destacado nacionalista e membro do MPLA, condenado em Luanda em tribunal especial e enviado para o Tarrafal conjuntamente, que me recorde, com Luandino Vieira e António Cardoso. Foi depois, entre 1975 e 1978 o primeiro ministro da Educação de Angola, vindo a falecer em Lisboa em 1991. O curto poema, intitulado Decena, é o que se transcreve do boletim em causa, com uma vénia à Universidade de Aveiro, pela tarefa de ter digitalizado e disponibilizado a coleção completa:

DECENA


Uma pomba me trazia

No seu bico delicado

Os beijos que me mandava;


Uma pomba lhe levava

Nas penas das suas asas

As cartas que lhe escrevia.

 

Um caçador a matou

Quando beijos me trazia

Ai amor! Que triste estou!

Adeus cartas que escrevia!

 


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