Minha Mãe: treze anos
Minha Mãe: na ponta dos meus
dedos, depois de treze anos, repousa ainda o insustentável frio do teu rosto. Alisaram-se-te
as vastas rugas esculpidas pela idade, virou de pedra o teu sorriso de olhar o
mar, voou sozinho o pequeno melro nascido no ninho feito no arbusto à esquina
da casa. Está ainda distante o amadurecimento dos medronhos que vão crescendo à
sombra esparsa dos pinheiros. O tempo parou sob a inusitada canícula de
setembro. A sombra dos carvalhos protege do sol as melancias expostas no largo
da igreja, enquanto o padre, vindo de fora, apressa o fim da eucaristia e o
início da procissão à roda da colina, para celebração da festa grande e para
venerar-te.
Tudo mudou, todos os velhos
morreram e até eu já sou mais velho do que tu. Talvez por isso, sou o único a
ter memória de todos os antigos caminhos que sobem pela encosta, até ao alto
onde apenas rangem os ramos dos pinheiros mansos. O único ruído que atravessa o
silêncio da tarde e a breve brisa marítima que chega da beira-mar, derrubando
as pinhas abertas de onde caiem os pinhões que se espalham pela terra erma dos
carreiros. Além do eco esganiçado e próximo do latido do rafeiro que me sai ao
caminho, escorrendo do meio do tojo agreste. O último grande afecto que
cultivámos em comum e que te protegeu todos os curtos passos, enquanto por ali
andaste a desbravar passados. Até perder o faro e a companhia, e ver chegar as
temporãs chuvas do outono.
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