O reencontro
A praça, com o formato de um vasto quadrado, ocupava o espaço de mais de quatro quarteirões. O lado mais nobre era delimitado pela avenida larga que levava para fora da cidade e por onde circulava um trânsito intenso e frenético. E para ela confluíam ruas e avenidas novas, de traçado linear e geométrico, ladeadas de árvores que, pelo Verão, semeariam uma sombra protectora sobre os passeios para os peões e para as esplanadas. Era Novembro. A tarde seca, indo a meio, espalhava um frio vespertino que começava a anunciar o Inverno próximo e que já bem se sentia sob as roupas ainda ligeiras que se vestiam. Àquela hora o espaço parecia deserto e os bancos em volta estavam quase todos vazios. O Outono já despira de folhas todas as árvores que erguiam para as nuvens os ramos nus numa espécie de súplica calada. Um cinzento claro, sem ameaças de chuva, nublava o céu parado.
Chegar ali custara mais de trezentos quilómetros e alguma meia dúzia de horas, com uma ansiedade persistente revolvendo-me por dentro, enervando-me com a lentidão a que se moviam os ponteiros do relógio. Parece que nunca mais se chegava ao destino e que nenhum tempo passava. Depois a vastidão do espaço e a monotonia da tarde tolhiam-me os sentidos, incapaz de saber de onde vinham ou para onde iam todas aquelas ruas. Nada como andar em volta, de mãos nos bolsos para enganar o frio e a inquietação, a passo lento, perscrutando a cada momento todas as pequenas distâncias, na esperança de ver surgir algures, em qualquer uma delas, uma silhueta que me fosse familiar e que viesse tranquilizar-me o espírito e restituir-me a confiança. Que fosse capaz de me devolver o brilho ao esverdeado dos olhos e o sorriso ao desencanto do rosto.
Foi
à contraluz do poente, com contornos vagos e indefinidos, que a imagem se foi
tornando mais nítida a cada passo seguro e tranquilo que dava na minha direcção.
Com isso a praça readquiria vida e animava-se, ao mesmo tempo que parecia
tornar-se mais suave o frio da tarde e mais distante a ameaça da noite. Não sei
como, mas mantivemo-nos no mesmo passo, contendo as emoções, quando a distância
que nos separava finalmente permitiu que nos reconhecêssemos. Paramos frente a
frente, olhos nos olhos, perdidos de gestos e de palavras, como se de silêncio
se tecesse o nosso deslumbramento. Devo ter-te apertado as mãos entre os meus
dedos trémulos. Estavas calma e nelas batia, seguro e certo, um coração
confiante. Tão calados ficamos que dizíamos tudo. O abraço e todas as palavras
foram apenas um complemento de que nem precisávamos, tudo o resto já nos
bastava. E não sei quanto tempo depois o reencontro era, finalmente, o dia
seguinte.
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