21 de agosto de 2025

Carta de Pero Vaz de Caminha a el-rei D. Manuel I sobre o achamento do Brasil

E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até que, terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de Abril, estando da dita ilha obra de seiscentas e sessenta ou seiscentas e setenta léguas, segundo os pilotos diziam, topámos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, assim como outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarte-feira seguinte (22 de Abril), pela manhã topámos aves a que chamam fura-buxos.

Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente de um grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome – o MONTE PASCOAL – e à terra – a TERRA DA VERA CRUZ.

Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças, e, ao sol-posto, obra de seis léguas de terra, surgimos âncoras, em dezanove braças – ancoragem limpa. Ali permanecemos toda aquela noite. E à quinta-feira (23 de Abril), pela manhã, fizemos vela e seguimos direitos à terra, indo os navios pequenos diante, por dezassete, dezasseis, quinze, catorze, treze, doze, dez e nove braças, até meia légua de terra, onde todos lançámos âncoras em frente à boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas pouco mais ou menos.

Dali avistámos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos, por chegarem primeiro.

Então lançámos fora os batéis e esquifes; e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do capitão-mor; onde falaram entre si.  E o capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quandio aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens.

Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com as suas setas. Vinham todos rijamente sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram.

[Excerto da edição da Parque Expo 98, SA, de 1997. O original desta carta, uma preciosidade de valor incalculável, é propriedade do estado português e encontra-se à guarda da Torre do Tombo.]

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