6 de dezembro de 2003

O Dr. Santana vai acabar a tomar Prozac

O Dr Santana anda numa perfeita obsessão com a mera possibilidade de vir a ser candidato a Belém, daqui a dois anos. O que ele mais gosta na vida é de ser candidato a qualquer coisa, nem que seja a convidado às festas da D. Lili Caneças ou do toino do Zé Castelo Branco. Já foi candidato a dirigente partidário, a autarca, a governante, a dirigente desportivo, a presidente dos bombeiros, a advogado, a catequista, eu sei lá. Creio mesmo que se algum jornalista mais competente lhe perguntasse o que sentia quando era nomeado candidato ele haveria de responder como o Sr. Fernando Gomes que foi camisola nove do Futebol Clube do Porto quando marcava um golo na baliza do adversário: sinto-me como se tivesse um orgasmo, no tempo certo, sem sinais de nenhuma precocidade.

Mas com a obsessão o homem nem dorme. Nem à força de se deitar tarde, depois da passagem pelas docas para se distrair a ver se Morfeu se lembra dele, nem sequer dos comprimidos para dormir, de que não digo o nome por causa da publicidade, não vá o Paulo Querido chatear-se comigo. E o pouco que dorme é um sono inquieto e sobressaltado, cheio de pesadelos, como se no dia anterior tivesse lixado todos os orgãos de soberania, incluindo o juiz Rui Teixeira. Acorda encharcado em suores frios, – pudera, estamos a chegar ao inverno! – os pés de tamanho quarenta e três destapados, aos gritos e com um medo pavoroso do escuro. Invariavelmente ergue-se da cama com lentidão, calça uns chinelos de cetim que são ainda lembrança de outros carnavais e esfregando a ramela dos olhos vai à casa de banho para verter águas. Dá um peido, curto e abafado, quase mudo, por causa da dignidade dos seus cargos e das suas ambições e regressa a vale de lençóis.

Já chegou a acordar julgando-se moço de forcados, em plena praça do Campo Pequeno, citando o touro indeciso e renitente, com as bandarilhas cravadas no lombo e o coiro a escorrer sangue. A imaginar-se a dar a volta de honra, acompanhando lado a lado o Sr. João Moura e a entregar-lhe os ramos de orquídeas que as solteironas de meia idade vão arremessando para a arena. E este, magnânimo, a dar-lhe a ele, de quando em vez, um ramito mais raquítico, mais velho e mais barato, para que sinta a honra com sendo também sua. Depois do touro o ter ensanguentado todo, o ter derrotado por três vezes, forçado a saltar a trincheira por duas e rasgado as calças todas no cu, sem prejuízo deste graças a Deus. Depois lembra-se que afinal é presidente da câmara a tempo parcial, que a praça até está encerrada por causa do major Otelo e que o terreno dava para fazer um edifício maior do que o da Caixa Geral de Depósitos. A vender a mais de quatrocentos contos o metro quadrado era uma fortuna, para o bolso dos mestres de obras e para a retoma económica da Dra Manuela Leite. Com o projecto contratado sem concurso com aquele sabido daquele arquitecto americano que vai transformar o Parque Mayer nos jardins suspensos da Babilónia.

Repete a cada instante que o futuro a Deus pertence e que Belém, à beira-rio, ainda vem longe. Nada de precipitações, tenho um compromisso com a cidade de Lisboa, outro com a SIC, outro com A Bola, além do resto que são ninharias. Quem lá está pode falar inglês muito bem, mas eu também me entendi com o arquitecto americano à primeira e sem intérprete e fizemos o negócio. Candidatos, a seu tempo se verá e eu não digo que não seja um deles. Quem já disse que não era foi o professor Marcelo, convém não o esquecer, não vá ele dar o dito por não dito. Quanto ao professor Cavaco, ainda não disse nada, é homem de ir fazer a rodagem ao carro novo sem destino e sem propósito. E depois pode ser o que já se viu, fica-se por ali, muda de carro três a quatro vezes e os outros que lhes façam as rodagens!

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