6 de dezembro de 2003

Olhem pela vida do Sr. Secretário de Estado!

O Sr. José Cesário é Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, parece. Parece ainda que também já o era na altura daquele ministro que se demitiu ao sétimo dia, como se se julgasse Deus ou, pelo menos, entendesse dever descansar e de cujo nome me não recordo. Mas sei que tinha uma filha de dezoito aninhos, candidata a um lugar numa das faculdades de medicina do país que, ingenuamente e sem querer, dirigiu um requerimento a outro ministro qualquer a solicitar que o mesmo fizesse apenas justiça sobre um qualquer assunto sem importância. Deste último ministro recordo apenas que foi mais lesto a demitir-se, a tempo ainda de comprar um cachecol nas imediações do Alvalade XXI, de o por ao pescoço e de correr para o aeroporto da Portela a apanhar o avião que levaria o Sporting para a Suécia. Apenas o fez para esquecer, como quem bebe!

No meio de todo o imbróglio de que o caso se revestiu – injustificada e injustamente, nem era preciso estar aqui a dizê-lo! – o Sr. Secretário de Estado comportou-se com a maior dignidade e foi fiel ao seu dono. Em intervenções públicas afirmou e repetiu que o senhor seu ministro nada tivera a ver com o caso e que de nada sabia. Que, se o viesse a saber, como acontece com outras circunstâncias na vida, seria sempre o último. A iniciativa fora sua, assumia-a, era uma pessoa de bem que tinha a verdade em muito alto pedestal, não valia a pena estarem agora a tentar descobrir o caminho marítimo para a Índia. O país, pouco acostumado a tais comportamentos, pasmou. Pasmou, não parou! Porque parado está ele nem se sabe já desde quando, faltava agora ainda saber como voltar a pô-lo a andar.

Agora uma qualquer comissão parlamentar – sim, e para lamentar também! – convocou o Sr. Secretário de Estado para que se explicasse, como se disso dependesse o futuro dos nossos filhos, a fortuna do Sr. Champallimaud ou a qualificação para o mundial de 2006. O dono do Sr. José Cesário mudou entretanto, como se depreende um pouco atrás, por força das circunstâncias e do despacho de exoneração. E ele, arguto e de decisão rápida como o Sr. José Mourinho, – embora barbeado e com o nó da gravata feito como deve ser – mudou imediatamente de estratégia. Não senhor, não era homem de fazer nada ao arrepio de quem hierarquicamente lhe estava acima. O senhor ministro sempre soubera de tudo, dera-lhe até as instruções todas, muito sintéticas, escritas num guardanapo de papel enquanto tomavam uma bica apressada num gabinete das Necessidades. Do palácio, do palácio, nada de más e segundas intenções!

É óbvio que o país tem de olhar pela vida de um cidadão deste calibre, desinteressadamente ao serviço do bem comum. Porque ele tem família e até filhos em idade escolar e, com os tempos que correm, é preciso tirar um curso. Até o engenheiro Fernando Santos teve de o fazer e, mesmo assim, nem sequer ainda fixou o nome dos turcos que chegaram a Lisboa e lhe enfiaram três secos. Ainda por cima em cinco minutos! Mas, quanto ao curso, nada lhe pode garantir que aos dezoito anos os seus filhos tenham o discernimento que, com a mesma idade, teve a filha do ministro, mesmo sem querer, para fazerem requerimentos aos ministros que, na altura, estiverem dentro do prazo de validade. Então melhor será tratar dele agora e, por provas dadas, promovê-lo a ministro. Tem currículo e tem perfil, mesmo quando se mira ao espelho de frente. É um homem completo, capaz de mentir em campanha eleitoral ou fora dela. Na condição de autarca, de deputado ou de governante. De inverno ou de verão, sem esquecer as estações intermédias em que é igualmente eficaz. Nos comícios do partido ou nas manifestações do 10 de Junho. Nos concertos dos Madredeus ou na final do Euro 2004. Dentro ou fora de casa, quer chova ou faça sol. Mas não digam nada ao Dr. Alberto João para que este não tenha ciúmes e se não meta na poncha. Também para esquecer!

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