O Dr. Ferro, piloto de rebocador na doca de Leixões
A classe política portuguesa é cada vez mais uma espécie de pescadinha de rabo na boca. Que se comporta autenticamente como os cachorros quando se querem deitar. Dão dez voltas sobre si próprios assim a termos de preparação. E quando pensamos agora é que é, lá vai, iniciam outras dez voltas, começando tudo de novo. Depois já se não deitam, pura e simplesmente caem vítimas do movimento circular e das tonturas.
A semana passado decorreu sob o signo do PEC que é uma coisa de que toda a gente fala nos transportes públicos, nos restaurantes, nos empregos e de que sabe muito menos ainda do que de futebol. Mas foi PEC para aqui, PEC para ali, PEC para cima, PEC para baixo, de tal modo que algumas respeitáveis senhoras idosas, avós exemplares e tementes a Deus, chegaram a dizer entre si que os dias de hoje estavam desgraçados e que eram pecados a mais. E, se formos a ver bem, os portugueses estão, no que se refere a siglas, como estão no resto: na cauda da Europa. Quando muito vão sabendo o que quer dizer FCP, SLB ou SCP e mesmo assim não exageremos.
Toda a gente fala de IVA e o paga, quase sempre sem consciência disso, porque isso não interessa ao poder político, e não sabe o que significam as letras. E o mesmo acontece com o IRS, o IRC, o IMI, os CTT, a EDP, a PT e por aí adiante.
Mas ainda sobre o PEC: pacto de estabilidade e crescimento. Para infelicidade nossa muita gente não sabe o que quer dizer pacto ou o que significa estabilidade e, para essa situação, mais e melhor do que ninguém têm contribuído os sucessivos governos. Que não cumpriram connosco nenhum pacto e nos não deram nenhuma estabilidade. Quanto a crescimento pensa-se sempre que é o dos filhos ou o dos netos, dependendo da idade.
Os políticos, benza-os Deus, também pouco mais sabem do que nós sobre o assunto, mas depois de uma cena ainda por explicar que a Dra Manuela fez algures, em relação a franceses e alemães, falaram na necessidade de reformular o PEC, de matar o PEC, de extirpar – não foi o Dr Soares pai – a estupidez do PEC. Para o governo, sempre coerente e sem nenhuma ideia, como o Dr Portas ainda a recuperar da depressão da Moderna, a culpa já vem de longe como a fama do brandy Constantino. E é toda do anterior governo do despesista Guterres que fez e desfez, colocou “boys” onde deveria ter apenas colocado bois e que depois fugiu quando o Dr. Fernando Gomes perdeu a Câmara do Porto. Para a oposição, que aguarda ainda as explicações da Dra Manuela quanto à tal cena, a posição é clara, transparente e mais do que coerente. Mas sem a mínima ideia, ainda mais do que combalida com a cena da prisão do Dr Pedroso e do seu regresso em ombros ao parlamento como se tivesse acabado de matar dois touros em Barrancos. Diz que o governo afunda o país, corroi a economia familiar, vende o património ao desbarato, combate os árabes no Iraque e cede-lhes as dívidas ao Estado por um quarto do valor. E quanto ao PEC, afirma, o governo vai a reboque do PS!
E assim, de repente, se vê o Dr Ferro, chefe da oposição e pai de família, transformado em piloto dos rebocadores que auxiliam os navios a atracar na doca de Leixões, nos dias tempestuosos de invernia. Agora a nós, o que nos preocupa mesmo, é essa do reboque. Então se nós temos um governo de merda – com vossa licença – e uma oposição de merda – também com vossa licença – o que acabará por resultar do reboque do primeiro pelo segundo? Desculpem mais uma vez, mas achamos – ainda com vossa licença - que é merda a mais!
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