14 de janeiro de 2004

A demagogia como publicidade paga

Num jornal de hoje deparo com uma página inteira de publicidade paga, da responsabilidade do nosso muito estimado Ministério da Saúde. Encabeça-a, a meio, o logotipo estilizado do ministério, acompanhado, simetricamente, por dois logotipos do famoso "Portugal em acção". Segue-se-lhes, em subtítulo: "Hospitais SA - Resultados do 1.º Ano de Empresarialização".

Comecei por consultar o meu dicionário escolar à procura deste último e estapafúrdio termo. Não o encontrei e deduzi que o ministério o inventara. Daí para baixo alinham-se números, que ninguém lê e que menos ainda estudam ou interpretam. Notem-se as saliências ao correr do texto: "Mais saúde. Maior transparência. Maior eficiência. 5,9% Abaixo do Orçamento". Todas as actividades hospitalares registaram um acréscimo. Todos os custos sofreram uma redução. Pode ser tudo inventado, como a querida "empresarialização", que até me custa a soletrar. Nunca aprendi alemão onde a importância das palavras é medida a metro. Como antigamente se mediam os tecidos para os fundilhos das calças.

Os portugueses continuam à espera que os hospitais lhes prestem os cuidados de saúde de que necessitam. Os centros de saúde não têm médicos. Faltam milhares de médicos de família, até mesmo nos grandes centros urbanos. As farmácias e os profissionais de saúde queixam-se do ministério, mais do que nunca, chamando-o literalmente de caloteiro. O ministro está feliz, o primeiro ministro reafirma-lhe a sua inteira confiança, o grupo Mello também. Os serviços seguem a política do anúncio e desbaratam recursos financeiros pelos quais nunca foram responsáveis. O país emprega médicos de leste na construção civil e na limpeza. Hão-de exterminar todas as bactérias e todos os virus. Os mentirosos e os ministros, não. Nem com Shelltox!

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