O auto do Pimenta e do Magalhães com 2 jogos do Euro para entreter
Porque hoje é sábado. Um sábado de inverno, triste, nevoento, com a humidade densa a cair pelas paredes e a acariciar os troncos rugosos dos plátanos do largo. Gostaria de esperar tranquilamente que a noite chegasse e que houvesse um concerto. Que Toquinho entrasse no palco, se sentasse no banco descaído sobre a esquerda, afagasse as cordas tensas do seu violão e gemesse, ao acaso, alguns acordes sem pauta e sem destino. Que depois entrasse ele mesmo, Vinicius, com ar desajeitado e trôpego, já de copo na mão, a voz rouca e macia dos trópicos. A ternura da poesia fazendo a sala transbordar pelo tecto, a música fingida, nunca foi o seu destino. Os aplausos ecoando pelos cantos, agitando as cortinas, fazendo o ar quente subir até aos holofotes. Não pode ser assim!
Podia ao menos permanecer em casa, resguardar-me do sábado, ao menos deste sábado assim, de inverno. E ouvir sozinho, sem a presença de nenhum deles, que a saudade leva já mais de dez anos. Enquanto me perguntaria porque razão o tempo passa tão ligeiro e a saudade nos fica tão profunda, a desgastar-nos, quando as pessoas partem assim, sem aviso prévio, sem passagem marcada e sem bilhete de regresso. Mas não vale a pena, o fatalismo é não sermos exactamente nada disto, nem o contrário.
Mas não me deixa o país que abandone o corpo ao recosto no sofá e o sentimento livre como pardal matreiro a saltitar largo adiante, a esconder-se em qualquer arbusto que ameace rebentar em folhas. Não! O país é assim, como um "teenager" que perde as noites a fio, que nunca dorme, que nunca tem sono. Que não deixa ninguém descansado como se todo ele fosse Entroncamento, só feito de nabos de três quilos e cenouras de cinquenta centímetros. Entroncamento de uma ponta à outra, de Afonso Henriques ao Dr Jorge Sampaio, sem nenhum intervalo de sessenta anos a meio para que os Filipes fossem donos da península. E tudo começou por lá, por aquele Entroncamento que é Guimarães, de onde partiu D. Afonso Henriques a fugir à frente da mãe armada de uma vassoura, a querer partir-lha nos costados nobres e robustos.
Como nos ensinaram livros de história que o Dr. Salazar mandou escrever assim, heroico partiu, feito mata-mouros, a conquistar castelos e cidades, foi expandindo a fé e o império, a perder de vista. Tal fenómeno acho depois ter sido sempre repetido nas naus que partiram do Largo das Oliveiras, com Gonçalves Zarco à procura do reino credor do régulo Alberto João. E por aí fora, nenhumas naus partiram de Sagres, nem o Infante nasceu no Porto, tudo ficção científica da época, como a história mal contada de Pedro Álvares Cabral partir do largo fronteiro ao castelo, com destino à Índia.
Ainda agora, o auto do Pimenta, com Magalhães como protagonista e o estádio, caro de meter medo, para ver dois jogos do Euro 2004, com bilhetes a preços de candonga. Pode o Sr Cesariny viver muitos anos e descansar quando for tempo de o mudarem para o panteão, merecido descanso depois de ter sido preciso avisar toda a gente. Tem seguidores e de rima fácil, como se fossem Aleixos que o tempo há-de reconhecer e fazer editar em cartilha. O Magalhães, presidente da Câmara, afirma que só agora percebeu, à custa da ajuda de juristas e de comprimidos para a azia, que a câmara doou o estádio ao clube. Diz o Pimenta que não, que lho comprou por uma porcaria de mil contos, menos do que o clube do Miguel Sousa Tavares paga a um júnior a quem ainda fornece casa, cama e roupa lavada. E que nisso foi a câmara beneficiada, tratante a tirar proveito do negócio, poupando em dez anos mais de 400 mil contos em despesas de manutenção.
Isto é tudo surrealista de mais, eu sei, para mim e para vocês. A câmara doou, o Pimenta comprou e quem deu enriqueceu. Depois a câmara pagou obras no que deu, o Estado deu dinheiro sem saber a quem. A câmara mandou plantar, por obrigação, painéis gigantes em propriedade alheia porque assim lho exigiram. O caso vai acabar mal com o Pimenta a pedir a indemnização. Estou com a cabeça feita em água, nem tenho comprimidos para a enxaqueca nem juristas licenciados por Coimbra para o auxílio. Acho que nisto há coisas que não batem certo, por isso de início me deu para o sentimento, era tão bom ao menos ouvir Vinicius trazer-me o sonho de bandeja, proteger-me do frio, da humidade e do novoeiro. Porque hoje é sábado.
Podia ao menos permanecer em casa, resguardar-me do sábado, ao menos deste sábado assim, de inverno. E ouvir sozinho, sem a presença de nenhum deles, que a saudade leva já mais de dez anos. Enquanto me perguntaria porque razão o tempo passa tão ligeiro e a saudade nos fica tão profunda, a desgastar-nos, quando as pessoas partem assim, sem aviso prévio, sem passagem marcada e sem bilhete de regresso. Mas não vale a pena, o fatalismo é não sermos exactamente nada disto, nem o contrário.
Mas não me deixa o país que abandone o corpo ao recosto no sofá e o sentimento livre como pardal matreiro a saltitar largo adiante, a esconder-se em qualquer arbusto que ameace rebentar em folhas. Não! O país é assim, como um "teenager" que perde as noites a fio, que nunca dorme, que nunca tem sono. Que não deixa ninguém descansado como se todo ele fosse Entroncamento, só feito de nabos de três quilos e cenouras de cinquenta centímetros. Entroncamento de uma ponta à outra, de Afonso Henriques ao Dr Jorge Sampaio, sem nenhum intervalo de sessenta anos a meio para que os Filipes fossem donos da península. E tudo começou por lá, por aquele Entroncamento que é Guimarães, de onde partiu D. Afonso Henriques a fugir à frente da mãe armada de uma vassoura, a querer partir-lha nos costados nobres e robustos.
Como nos ensinaram livros de história que o Dr. Salazar mandou escrever assim, heroico partiu, feito mata-mouros, a conquistar castelos e cidades, foi expandindo a fé e o império, a perder de vista. Tal fenómeno acho depois ter sido sempre repetido nas naus que partiram do Largo das Oliveiras, com Gonçalves Zarco à procura do reino credor do régulo Alberto João. E por aí fora, nenhumas naus partiram de Sagres, nem o Infante nasceu no Porto, tudo ficção científica da época, como a história mal contada de Pedro Álvares Cabral partir do largo fronteiro ao castelo, com destino à Índia.
Ainda agora, o auto do Pimenta, com Magalhães como protagonista e o estádio, caro de meter medo, para ver dois jogos do Euro 2004, com bilhetes a preços de candonga. Pode o Sr Cesariny viver muitos anos e descansar quando for tempo de o mudarem para o panteão, merecido descanso depois de ter sido preciso avisar toda a gente. Tem seguidores e de rima fácil, como se fossem Aleixos que o tempo há-de reconhecer e fazer editar em cartilha. O Magalhães, presidente da Câmara, afirma que só agora percebeu, à custa da ajuda de juristas e de comprimidos para a azia, que a câmara doou o estádio ao clube. Diz o Pimenta que não, que lho comprou por uma porcaria de mil contos, menos do que o clube do Miguel Sousa Tavares paga a um júnior a quem ainda fornece casa, cama e roupa lavada. E que nisso foi a câmara beneficiada, tratante a tirar proveito do negócio, poupando em dez anos mais de 400 mil contos em despesas de manutenção.
Isto é tudo surrealista de mais, eu sei, para mim e para vocês. A câmara doou, o Pimenta comprou e quem deu enriqueceu. Depois a câmara pagou obras no que deu, o Estado deu dinheiro sem saber a quem. A câmara mandou plantar, por obrigação, painéis gigantes em propriedade alheia porque assim lho exigiram. O caso vai acabar mal com o Pimenta a pedir a indemnização. Estou com a cabeça feita em água, nem tenho comprimidos para a enxaqueca nem juristas licenciados por Coimbra para o auxílio. Acho que nisto há coisas que não batem certo, por isso de início me deu para o sentimento, era tão bom ao menos ouvir Vinicius trazer-me o sonho de bandeja, proteger-me do frio, da humidade e do novoeiro. Porque hoje é sábado.
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial