A Madeira mandou cá o cobrador do fraque
Pensávamos que apenas a vocação colonialista, que o Dr Portas quer ver consagrada na constituição, nos prendia à Madeira e demais colónias, como as Selvagens e a ilha do Pessegueiro. Entendendo-se, naturalmente, por vocação a despudorada infâmia de lhes subtrair recursos e de os utilizar em proveito próprio. Não comprendíamos até que algumas pessoas, certamente descendentes directos de Miguel de Vasconcelos, pudessem perguntar o que fazia Portugal prolongar a sua presença na Madeira, se até as bananas que de lá nos mandam são pequenas e de qualidade discutível. Ouvi algumas vezes vozes, seguramente menos patrióticas, afiançarem que isso se devia ao medo que o Terreiro do Paço - pelos vistos em vias de mudança definitiva por causa do fantasma do Marquês! - tinha do mais velho Alberto João e do seu distinto discípulo Jaime Ramos.
Tudo porque, diziam, a potência colonizadora se não farta de enviar dinheiro para a Madeira e porque esta ainda se farta menos de o esbanjar em foguetórios de ano novo. Ao menos, antigamente, a metrópole - segundo nos disseram - ia mandando desembargadores que sempre contribuíam para manter o gentio na ordem. Também custava dinheiro, mas sempre era menos. Agora não! O país, ao fim de novecentos anos de conturbada vida, está senil de todo. À força do progresso da química e do enriquecimento da americana Pfizer, mesmo velho, já não fica à espera de qualquer jovem de peito agressivo e tornozelo ao léu, até à coxa roliça. Não! Perde-se à vista de qualquer puta velha e sabida, de cabelo ralo, verrugas no nariz e adiposas mamas a chegarem ao presumível sítio do umbigo. Encomenda champanhe, genuíno, da Bairrada, à garrafa, para mexer com uma palhinha e disfarçadamente entornar debaixo da mesa. Até ao coma alcoólico!
Pelo amor tardio, espaçado e não correspondido, acaba por dar mundos e prometer fundos. As promessas, sabemo-lo há quase trinta anos, são a arma política que mais facilmente submete os portugueses. Não que os trespasse, de lado a lado, mas chega-lhes ao sentimento e, até à lágrima ao canto do olho, são menos que três tempos. Ao menos o Dr Salazar não prometia nada a ninguém. Por isso morreu velho, solteiro e virgem. E tarde! Agora não! O país é um mãos largas, esbanjador, como se nada lhe custasse a ganhar, o que até é inteiramente verdade. E promete, promete, promete!
Poucas vezes cumpre. Por ter mudado de ideias e arranjado namorada nova? Nada disso! Apenas porque vive à sua imagem, acima das suas possibilidades, imitando os outros e fingindo que está rico à custa da herança do tio do Brasil. Algumas promessas de casamento acabam em tribunal e ali se mantêm, em segredo de justiça. Sem publicidade e sem sentença. Quando esta tarda muito, o que, para variar, é quase sempre, o credor faz ele próprio as suas diligências, com ameaças veladas e o punho cerrado, preparado para o soco. Como agora que, da Madeira, mandou o cobrador do fraque.
Reuniu com o conselho quase todo, incluindo o ministro da porrada, disfarçado por detrás de uma barbicha de três semanas, de quem nem sequer teve medo. Esmerou-se nas maneiras e as palavras denunciavam a leitura recente da D. Paula Bobone. Teve o cuidado de dizer que, desta vez, não vinha pedir nada, isso já o fizera da vez anterior. Agora vinha só pelo pagamento, porque se atrasavam. O Estado devia à Madeira e era bom que pagasse, depressa e com juros. O Estado prometeu que sim, e acredito que com medo do Sr Jaime Ramos!
Tudo porque, diziam, a potência colonizadora se não farta de enviar dinheiro para a Madeira e porque esta ainda se farta menos de o esbanjar em foguetórios de ano novo. Ao menos, antigamente, a metrópole - segundo nos disseram - ia mandando desembargadores que sempre contribuíam para manter o gentio na ordem. Também custava dinheiro, mas sempre era menos. Agora não! O país, ao fim de novecentos anos de conturbada vida, está senil de todo. À força do progresso da química e do enriquecimento da americana Pfizer, mesmo velho, já não fica à espera de qualquer jovem de peito agressivo e tornozelo ao léu, até à coxa roliça. Não! Perde-se à vista de qualquer puta velha e sabida, de cabelo ralo, verrugas no nariz e adiposas mamas a chegarem ao presumível sítio do umbigo. Encomenda champanhe, genuíno, da Bairrada, à garrafa, para mexer com uma palhinha e disfarçadamente entornar debaixo da mesa. Até ao coma alcoólico!
Pelo amor tardio, espaçado e não correspondido, acaba por dar mundos e prometer fundos. As promessas, sabemo-lo há quase trinta anos, são a arma política que mais facilmente submete os portugueses. Não que os trespasse, de lado a lado, mas chega-lhes ao sentimento e, até à lágrima ao canto do olho, são menos que três tempos. Ao menos o Dr Salazar não prometia nada a ninguém. Por isso morreu velho, solteiro e virgem. E tarde! Agora não! O país é um mãos largas, esbanjador, como se nada lhe custasse a ganhar, o que até é inteiramente verdade. E promete, promete, promete!
Poucas vezes cumpre. Por ter mudado de ideias e arranjado namorada nova? Nada disso! Apenas porque vive à sua imagem, acima das suas possibilidades, imitando os outros e fingindo que está rico à custa da herança do tio do Brasil. Algumas promessas de casamento acabam em tribunal e ali se mantêm, em segredo de justiça. Sem publicidade e sem sentença. Quando esta tarda muito, o que, para variar, é quase sempre, o credor faz ele próprio as suas diligências, com ameaças veladas e o punho cerrado, preparado para o soco. Como agora que, da Madeira, mandou o cobrador do fraque.
Reuniu com o conselho quase todo, incluindo o ministro da porrada, disfarçado por detrás de uma barbicha de três semanas, de quem nem sequer teve medo. Esmerou-se nas maneiras e as palavras denunciavam a leitura recente da D. Paula Bobone. Teve o cuidado de dizer que, desta vez, não vinha pedir nada, isso já o fizera da vez anterior. Agora vinha só pelo pagamento, porque se atrasavam. O Estado devia à Madeira e era bom que pagasse, depressa e com juros. O Estado prometeu que sim, e acredito que com medo do Sr Jaime Ramos!
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