A calmaria da Semana Santa
Isto de facto não há nada como ser Semana Santa! Com o governo a conceder à função pública, patrioticamente, tolerância de ponto na quinta-feira. A ser feriado, carregado dos tons roxos das últimas horas de luto, na sexta. Com a Aleluia de sábado e depois com a celebração da Páscoa no Domingo. Fim se semana longo, previsões de bom tempo, sem chuva e com sol, o país não pára. O país autenticamente deserta, como se fugisse aos impostos. Apesar das muitas brigadas da polícia dispersas ao longo dos quilómetros de auto-estrada, diz-se que meio milhão de portugueses rumaram ao Algarve. Os que ficaram, aqueles que até nunca foram, nem pela Páscoa, nem pelo Natal, nem sequer pelo Verão, queixam-se da crise e perguntam-se se aquele meio milhão que foi, também não teve aumentos de vencimento nos últimos dois anos. O meio milhão que foi dará pretexto ao Dr Barroso para anunciar pela enésima vez que a retoma já se nota perfeitamente e que os membros do seu gabinete, que também foram, se puderam certificar disso pessoalmente e sem intermediários.
Até o Sr José Manuel Fernandes nos poupa com a ponderação isenta dos seus editoriais. De serviço, garantindo a reparação imediata das pequenas avarias nas chaleiras e nas torradeiras eléctricas fica, indispensável, o Sr Luís Delgado, cronista oficial do regime que, se a tanto lhe chegar o engenho e a arte, o há-de cantar por tempestuosos mares do oriente, em dezassete longos cantos de versos rigorosamente alexandrinos. Mas, mais do que nunca, ninguém lhe liga importância e sobra-lhe a ele todo o tempo do mundo para repetidamente ler a sua prosa enquanto fita o umbigo no espelho fronteiro.
Falta o assunto aos jornais e o recolhimento impõe que se não tire partido do abraço fraterno com que, no decurso das homílias quaresmais, o Dr Barroso presenteia o Dr Ferro, o Dr Portas cumprimenta o Dr Carvalhas e o Dr Louça enlaça o Dr Santana. Ninguém pede a presença do Dr Figueiredo Lopes no parlamento a perguntar-lhe se os soldados feridos no Iraque têm feito o penso diário. Ninguém acha dever pedir explicações pelas quase três mil nomeações de profissionais qualificados pelo partido que o governo já fez em dois anos. A época é de contenção e de fraternidade. Nem o Dr Pires de Lima ousa, a coberto do manto púrpura que lhe ensinaram a respeitar na catequeses, sugerir que os comunistas, mesmo aparentemente populares como a Dra Odete Santos, continuam a devorar criancinhas ao pequeno almoço a acompanhar os seus flocos de aveia.
Apenas um sacana de um inoportuno incêndio, não incluído nos planos quinquenais do governo nem tão pouco nas celebrações da Semana Santa, ousou deflagrar algures, no distrito de Santarém. Com todo o mundo ausente, a tentar colher o benefício dos raios ultravioletas da manhã enquanto as ondas, suaves, morrem lentas pela areia fina da Praia dos Tomates. Podia, ao menos, ter sido mais perto, um pouco mais à mão. A providência, divina ou não, realmente também não tem nenhum respeito pelo descanso breve de quem trabalha!
Até o Sr José Manuel Fernandes nos poupa com a ponderação isenta dos seus editoriais. De serviço, garantindo a reparação imediata das pequenas avarias nas chaleiras e nas torradeiras eléctricas fica, indispensável, o Sr Luís Delgado, cronista oficial do regime que, se a tanto lhe chegar o engenho e a arte, o há-de cantar por tempestuosos mares do oriente, em dezassete longos cantos de versos rigorosamente alexandrinos. Mas, mais do que nunca, ninguém lhe liga importância e sobra-lhe a ele todo o tempo do mundo para repetidamente ler a sua prosa enquanto fita o umbigo no espelho fronteiro.
Falta o assunto aos jornais e o recolhimento impõe que se não tire partido do abraço fraterno com que, no decurso das homílias quaresmais, o Dr Barroso presenteia o Dr Ferro, o Dr Portas cumprimenta o Dr Carvalhas e o Dr Louça enlaça o Dr Santana. Ninguém pede a presença do Dr Figueiredo Lopes no parlamento a perguntar-lhe se os soldados feridos no Iraque têm feito o penso diário. Ninguém acha dever pedir explicações pelas quase três mil nomeações de profissionais qualificados pelo partido que o governo já fez em dois anos. A época é de contenção e de fraternidade. Nem o Dr Pires de Lima ousa, a coberto do manto púrpura que lhe ensinaram a respeitar na catequeses, sugerir que os comunistas, mesmo aparentemente populares como a Dra Odete Santos, continuam a devorar criancinhas ao pequeno almoço a acompanhar os seus flocos de aveia.
Apenas um sacana de um inoportuno incêndio, não incluído nos planos quinquenais do governo nem tão pouco nas celebrações da Semana Santa, ousou deflagrar algures, no distrito de Santarém. Com todo o mundo ausente, a tentar colher o benefício dos raios ultravioletas da manhã enquanto as ondas, suaves, morrem lentas pela areia fina da Praia dos Tomates. Podia, ao menos, ter sido mais perto, um pouco mais à mão. A providência, divina ou não, realmente também não tem nenhum respeito pelo descanso breve de quem trabalha!
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