4 de abril de 2004

Porto: o Largo da Aguardente hoje

No topo norte da Praça Marquês de Pombal, a placa que aqui se publica em dimensões que, o mais provavelmente, não permitirão a leitura, tem a seguinte inscrição:

Em 1832, durante o Cerco do Porto, passavam neste local as linhas de defesa liberais. O Largo da Aguardente, como então se chamava, ficava nessa época no limite da zona urbana. Aqui se situava uma das barreiras da cidade, onde era cobrado imposto sobre as mercadorias entradas. Em meados do século XIX a praça tinha já a configuração actual e possuía uma frondosa alameda. Foi ajardinada em 1898 e recebeu o coreto de ferro, oferta dos habitantes da zona. Do lado poente situa-se a Igreja da Imaculada Conceição. Foi começada em 1938, segundo projecto inicial do arquitecto Frei Paul Bellot, com a colaboração de diversos pintores e escultores na decoração do interior.

O centro do largo está hoje ocupado pelas intermináveis obras do chamado Metro do Porto que, contra a vontade da cidade, sacrificaram alguns dos plátanos seculares. Os restantes dispõem-se ao redor da praça, com o altivo porte que lhes é permitido pela idade superior a cem anos. Começam, nesta altura, a apresentar, pequenas e tímidas, as primeiras folhas que o sol da Primavera chama. Dentro de pouco tempo serão gigantescas árvores frondosas a cuja sombra se acolherão os inveterados jogadores de sueca, apesar do constante ruído das gruas e das máquinas que edificam o betão do metro.

O coreto ali está, confundido na falta de dignidade que as obras em curso lhe conferem. Também, antes delas e mesmo depois delas, pouca mais lhe estava ou estará reservada. Ancião, de mais de cem anos também, a arteriosclerose da ferrugem mina-lhe o corpo. A pintura, uma vez por outra, serve-lhe apenas de maquilhagem para agradar a antigas paixões já desfeitas e perdidas no tempo. É pena que as tardes domingueiras de Verão lhe não tragam de volta as muitas bandas de música que ainda tocam pelo país. Como uma sagração da estação do ano por que a cidade espera durante nove meses.

Apenas uma nota final. Estritamente pessoal. Agradava-me muito mais a designação de Largo da Aguardente do que a actual de Marquês de Pombal. Tinha muito mais a ver com a cidade, não se sabendo quem lha atribuiu e não pretendendo celebrar fosse quem fosse.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial