A atávica vocação do país
O país tem, irremediavelmente, a tentação da tragédia e a vocação do ridículo. A questão é atávica, vem-lhe de família, está-lhe incrustada no ADN, nos sinais particulares que eram arrolados no antigo bilhete de identidade e que constavam do registo criminal que não vinha com o carimbo a óleo a dizer "nada consta".
Ainda agora, quando as coisas corriam tão normalmente bem, com a blogosfera a dar guarida a um anacleto que não é francisco e a um acidental que passou a ajudante de ministro. Quando a oposição, via esquerda moderna, se afirmava exactamente como oposição, vestindo Armani e usando cuecas Calvin Klein. Quando Carvalhas se dizia mais cansado em doze anos do que Cunhal em sessenta e renunciava, ficando-se à espera de Prestes para a renovação e de Fidel para delfim. Quando o Iraque, finalmente, estava mais seguro, exultava com a democratização e Bush podia debater com Kerry sem o receio de atentados. Quando os combustíveis e o ministro Mexia acompanhavam, sem sobressaltos, a subida dos preços do crude e a privatização da Galp. Quando o ministro do mar saía do bunker de S. Julião e ia, sorridente e convicto, acompanhar a amiga Cinha ao seu destino rural e agrícola. Quando o ministro da saúde tinha quase garantida a saúde dos ricos e a comparticipação inevitável dos pobres nas taxas moderadoras. Quando quem paga as auto-estradas é quem as utiliza e quem arrecada os proveitos é o senhor José de Melo para pagar a mensalidade do lar de terceira idade onde definha. Quando o governo, voluntarioso, capaz e patriótico, acabava de legislar sobre a lei do arrendamento depois de passado quase um século e resolvia o problema da habitação.
Quando tudo era normalmente assim e o Benfica aguarda pelo Porto com quatro pontos de avanço, deixando Bagão Félix livre para as finanças e para o défice, acontece o ministro não sei quê da silva ter digerido mal um último petisco de domingo à noite, sufocado com azia e cuspido fogo como o dragão com quem Pinto da Costa dorme há mais de vinte anos. Lixou-se o cozinheiro por ter deixado apurar demasiado o refogado e por ter descuidadamente deixado cair um pouco mais de piri-piri para o molho. Tudo isto quando heroicamente José Castelo Branco, a bem da retoma económica e do crescimento do PIB, se entrega à cultura do brócolo, agarra o ancinho pelo cabo e anda às cavalitas de um machão tipo Arnold Schwarzenegger. Porra que não dá para aguentar!
Ainda agora, quando as coisas corriam tão normalmente bem, com a blogosfera a dar guarida a um anacleto que não é francisco e a um acidental que passou a ajudante de ministro. Quando a oposição, via esquerda moderna, se afirmava exactamente como oposição, vestindo Armani e usando cuecas Calvin Klein. Quando Carvalhas se dizia mais cansado em doze anos do que Cunhal em sessenta e renunciava, ficando-se à espera de Prestes para a renovação e de Fidel para delfim. Quando o Iraque, finalmente, estava mais seguro, exultava com a democratização e Bush podia debater com Kerry sem o receio de atentados. Quando os combustíveis e o ministro Mexia acompanhavam, sem sobressaltos, a subida dos preços do crude e a privatização da Galp. Quando o ministro do mar saía do bunker de S. Julião e ia, sorridente e convicto, acompanhar a amiga Cinha ao seu destino rural e agrícola. Quando o ministro da saúde tinha quase garantida a saúde dos ricos e a comparticipação inevitável dos pobres nas taxas moderadoras. Quando quem paga as auto-estradas é quem as utiliza e quem arrecada os proveitos é o senhor José de Melo para pagar a mensalidade do lar de terceira idade onde definha. Quando o governo, voluntarioso, capaz e patriótico, acabava de legislar sobre a lei do arrendamento depois de passado quase um século e resolvia o problema da habitação.
Quando tudo era normalmente assim e o Benfica aguarda pelo Porto com quatro pontos de avanço, deixando Bagão Félix livre para as finanças e para o défice, acontece o ministro não sei quê da silva ter digerido mal um último petisco de domingo à noite, sufocado com azia e cuspido fogo como o dragão com quem Pinto da Costa dorme há mais de vinte anos. Lixou-se o cozinheiro por ter deixado apurar demasiado o refogado e por ter descuidadamente deixado cair um pouco mais de piri-piri para o molho. Tudo isto quando heroicamente José Castelo Branco, a bem da retoma económica e do crescimento do PIB, se entrega à cultura do brócolo, agarra o ancinho pelo cabo e anda às cavalitas de um machão tipo Arnold Schwarzenegger. Porra que não dá para aguentar!
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