11 de outubro de 2004

A neblina e o suspense

Desde o final da semana passada que o país vive suspenso da comunicação que o primeiro ministro, premeditadamente, anunciou para hoje à noite, utilizando tempos de antena reservados ao governo e fora do alinhamento horário dos serviços noticiosos regulares. Parece que está comprometida a própria continuidade da conhecida quinta das imbecilidades porque a maioria dos participantes se não conforma com a perda do episódio de hoje, sobre cuja trama pairam a neblina e o suspense.

Diverge desta excitação irracional o homem mais rico do país, novo título nobiliárquico que lhe foi atribuído pela momentânea indisponibilidade de um brasão e de um qualquer condado na cova da beira. Que sinteticamente afirma não ter o primeiro ministro nada para dizer e não estar ele, por isso, disposto a ouvir-lhe o responso. Prefere, deste modo, assistir ao encerramento das portas dos supermercados e verificar a eficácia dos sistemas de controlo que impedem o roubo de produtos e o desvio de dinheiros.

O país não deveria, em todo o caso, excitar-se tanto com o que vai dizer o primeiro ministro, o que faz o merchand de arte José White Castle e o tom em que zurra o partenaire da Júlia Pinheiro. Deveria, mais sensatamente, concentrar-se naquilo que tem ele para dizer ao primeiro ministro, ao seu governo, aos seus assessores e às promotoras da sua imagem. E o primeiro ministro deveria cordatamente disponibilizar-se mais para ouvir, dos Olivais ao Cabo da Roca, de Melgaço a Vila Real de Santo António. Porque falar já se sabe que falará para S. Bento e imediações, com uma voz que não chegará a nenhum céu.

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