9 de outubro de 2004

O dia mundial dos correios

Dia mundial dos correiosComemora-se hoje, 9 de Outubro, o dia mundial dos correios. Os correios portugueses, que ainda existem, para chegarem a tempo iniciaram as comemorações, para as câmaras dos fotógrafos e para os governadores civis, há dois dias. Com a inauguração de quatro estações que, dizem, obedecem a um novo conceito e perseguem novos objectivos, em Faro, Lisboa, Coimbra e Porto.

Quanto às inaugurações, de há muito que os correios têm, em relação a elas, uma dependência de toxicodependente. Sempre que se pinta uma parede ou se muda uma sanita promove-se uma inauguração e convidam-se, solenemente, as autoridades civis, militares e eclesiásticas. Faz-se o sinal da cruz, espalha-se água benta pelos balcões e bebe-se à saúde do chefe do governo. Antigamente este tinha direito a fotografia no gabinete do chefe da estação, lado a lado com aquele que fosse o presidente da república. Mais recentemente o presidente do conselho de administração manda rezar missas de acção de graças, pagas segundo a tabela de preços em vigor em cada paróquia, convoca as tropas e comunga de mãos postas como quando fez a comunhão solene.

O novo conceito fez dos balcões dos correios lojas atípicas, onde se toma café e se vai às casas de banho em caso de urgência, se vendem livros sem a qualidade das livrarias e a profusão dos hipermercados e, apesar de tudo, se expedem cartas e se fazem registos. Espera-se que no âmbito das parcerias que anunciam os correios passem dentro em breve a vender detergentes de fabrico espanhol, papel higiénico da renova e preservativos made in china.

Mas o caminho percorrido até aqui chegar foi longo e espinhoso. O presidente do conselho de administração teve de o ser por duas vezes, e esta em terceira ou quarta escolha, como a louça de barro vidrado em que se assam chouriços e se faz, ao lume, o rancho à portuguesa. De permeio teve de instalar telefones, ser chefe de departamento, administrar empresas do grupo Marconi, subscrever prejuízos de milhões de contos. Sempre a construir currículo. Depois ainda foi secretário geral de um partido cujo nome, por pudor, se não revela mas de que o agora tão falado professor Marcelo foi presidente. Hábil e polivalente foi administrador da sociedade desportiva de um clube conhecido que esteve quase vinte anos sem ser campeão, que tradicionalmente equipa de verde e branco - sem ser vinho verde branco! - e cujo nome, também, de momento não ocorre.

Regressou aos correios depois de sucessivas recusas que o cargo, apesar de tudo, não interessa a qualquer celeste giroflé giroflá, com mais amplas competências e mais patrióticos propósitos. E anunciou que vinha para preparar a privatização da empresa - sociedade anónima de capitais inteiramente públicos e accionista único! - para satisfação das exigências comunitárias, dos princípios liberais dos jaquinzinhos e das boxers de marca da esquerda moderna. Trouxe consigo metade dos excedentários do banco do jardim, mandou que se lhes desse carro, cartão de crédito e telemóvel de serviço para o namoro e para o engate. Mandou para casa diligentes empregados que persistiram em trabalhar de frente, denunciando falta de perfil. Emitiu normas no sentido de que, os que ficassem, passassem a trabalhar acocorados, de farda vestida, e sem rins nem atitude erecta.

Mais recentemente trouxe à empresa, não se sabe bem de onde nem bem como, um novo conjunto de militantes jovens turcos, candidatos à adesão à união europeia e à misericordiosa extinção da pena de morte por decapitação, com ordenados e mordomias que o crescimento dos lucros do banco, a magros 15%, não comportava. Não se sabe o que fazem, diz-se quanto ganham e vê-se bem o nada que sabem: de cartas ouviram falar aos tios-avós, eles são da geração do rigor virtual do mail e da geração espontânea do spam e dos vírus.

Por tudo isto e muito mais de outras coisas que não cabem na estação dos restauradores, Carlos Horta e Costa é uma figura única que se evidencia pelo corte do fato e pelo luzidio da calva. Tem como habilitações literárias o apelido e como prática profissional a destruição e o desconchavo. Deve ser nomeado para o prémio Nobel da química neste mundo de quintas, autarcas e celebridades onde, sem adubo, medra a lei do senhor lavoisier que antigamente o sacristão ensinava na catequese. Conseguiu transformar o correio em merda e a puta em bela dona!


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