30 de novembro de 2004

Pode ser?

A pergunta para o referendo:


Em Portugal - 30 palavras:
Concorda com a carta de direitos fundamentais, a regra das votações por maioria qualificada e o novo quadro institucional da União Europeia nos termos constantes da constituição para a Europa?



Em Espanha - 15 palavras:
Aprueba usted el tratado por el que se instituye una Constitución para la Unión Europea?




Bem, até já estamos habituados a isso. De Espanha vem-nos tudo excepto, segundo a tradição, bom vento ou bom casamento. De resto vêm os tomates, as cenouras, as laranjas. Vem a carne de porco, a carne de novilho - eufemismo para designar vaca maior de 35 anos, com quatro filhos e três netos! - e até o frango do campo, criado no cativeiro do aviário forçado a comer mesmo que não queira. Vêm os trapos com que escondemos as misérias e exibimos as plásticas e os silicones, feitos moda nos cabides da Zara. Vêm-nos o feijão cozido e as alubias, o grão-de-bico e os garbanzos, previdentemente conservados em latas de 400 gramas. Da mesma forma que nos chegam médicos e enfermeiros que, ao menos, impedem que morramos sob os auspícios do ministro da saúde, entretido a celebrar contratos com o grupo Mello e a reduzir o défice do orçamento à custa da comparticipação dos desempregados no preço dos medicamentos.

Portanto, não seria nenhuma novidade. O galego Fraga Iribarne, mesmo velho, nunca seria pior do que o doméstico Alberto João, mesmo que não haja bananais em Pontevedra e não tenham nenhuma tradição os corsos de carnaval no cabo Finisterra. Qualquer ignorado e cinzento deputado da Andaluzia apresentaria mais projectos do que o Silva de Águeda e o alcaide de Vigo asseguraria, certamente com vantagem, a polémica tripeira sobre a avenida da Boavista e o trajecto do Metro do Porto. E assim sendo poderíamos anunciar as nossas ofertas de emprego nos periódicos da Galiza, da Andaluzia, das Astúrias e até da Catalunha. Começaríamos por um qualquer jovem que tivesse acabado um apressado curso de direito e apresentasse como currículo a leitura do D. Quixote.

Como primeira tarefa ser-lhe-ia entregue a redacção da famigerada pergunta para o referendo que ainda não tem data. Por razões de produtividade e para contento do empresariado nacional o contrato de trabalho não seria sequer a prazo certo: seria à palavra, que não à linha. Fixar-se-ia um limite máximo de quinze, nem mais uma. As que excedessem o limite poderiam não ser consideradas e, ponto assente, não contariam para o cálculo dos honorários. Poupar-se-ia dinheiro como quando se vai a Badajoz comprar caramelos ou a Tuy meter gasolina.

Ah, antes que esqueça! A pergunta pode ser mesmo escrita em espanhol, a ver se a gente consegue entender alguma coisita da porra do texto. Porque o que a gente não entende mesmo é aquele esquisito dialecto que os deputados falam na Assembleia da República e que os professores de português utilizam para fazer dos nossos filhos ileteratos habilitados com licenciatura. E sem emprego!

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