Voto de qualidade
Sem a arte ilusionista de Luís de Matos mas com a eficácia matadora do Pauleta o Dr. Rio tirou ontem da cartola um bem nutrido laparoto e a sua qualidade de presidente da Câmara. O orçamento para o ano de 2005 foi aprovado mercê do seu voto de qualidade. Os seis vereadores do PS votaram contra e o vereador da CDU absteve-se. Tomando a sério a situação acrescentarei que o Dr. Rio adicionou mais um ponto ao seu currículo pessoal, processado em Microsoft Word, fonte arial, tamanho 12, para que possa ver-se bem e resistir melhor à devastadora erosão política.
O orçamento parece ser uma peça reservada a que, para além da vereação, apenas o SIS pode ter acesso. De forma que a sua leitura tem que fazer-se nas entrelinhas das notícias que alguns profissionais da comunicação social foram incumbidos de redigir. Por um lado salienta-se a preocupação da vereação com o problema da habitação social e a verba que o orçamento lhe consagra. Por outro condiciona-se a disponibilização dessas verbas aos proveitos obtidos na venda de habitações camarárias. O acto, em si próprio, parece surrealista: a Câmara vende habitação social para financiar habitação social, quer dizer, vira o disco e toca o mesmo. Mesmo que por formação profissional me situe na área nunca fui capaz de entender aquilo a que novos eufemismos chamam contabilidades criativas. Provavelmente por falta de vocação artística, concedo sem rebuço. E, já agora, sem parecer dos auditores ou certificação dos revisores de contas.
Mas Deus me acuda que mais surrealista ainda é a argumentação desfraldada pelos vereadores socialistas. O propósito está correcto e estes seis homens bons de que a cidade se orgulha e que os funcionários respeitam, comandados pelo engenheiro Gaspar na condição de chefe de quina, entendem que «a fórmula como se tem procurado levar os moradores a comprar tem sido incorrecta», porque muitos «preferem pagar o aluguer a ter a responsabilidade do condomínio e da contribuição autárquica». E lembra-se ainda que a prova de que a fórmula é errada é o facto de, em 2004, em 723 casas municipais, só cinco foram vendidas. Além disso, objectivamente, o orçamento é «demasiado restritivo e redutor». Não diz em quê nem isso são contas do nosso rosário, mas um orçamento demasiado restritivo já é uma afronta. Como se isso lhe não bastasse ainda faltava que fosse redutor. Redutor é que nunca, ó santa Câmara, nem por cima dos nossos cadáveres, que fique expresso. Ainda por cima quando isso tem a ver com «os caminhos de alguma incerteza nalgumas rubricas, principalmente das despesas e receitas». O problema, pelos vistos, é de marketing e de falta de empenho dos vereadores-vendedores que não atingiram os objectivos, mesmo que tivessem em mãos um produto de primeira necessidade, como as batatas da Póvoa ou os nabos de Gondomar que, como se sabe, as lojas do Continente vendem sem anúncios e sem demonstradores. Não tivesse a sua acção sido incompreensivelmente restritiva e alarvemente redutora. E não se compreende sequer que «a falta de visão tenha sido a grande marca deste executivo», tanto mais que a cidade dispõe de oftalmologistas nos hospitais SA e nas clínicas privadas, não há listas de espera na mesa de trabalho do ministro da saúde e os vereadores, mesmo que destrambelhados oposiocionistas, estão magnanimamente abrangidos pelos serviços de protecção da ADSE.
O vereador da CDU abrigou-se da chuva que, aliás, tem andado muito mais arredia do que o frio. E até porque, entre outras coisas, há que poupar as reservas estratégicas dos SMAS e qualquer cargo que a elas possa andar associado. E assim objectivamente refere que o orçamento tem coisas boas e coisas más. Como na filosofia futeboleira do treinador do Sporting: umas vezes não se ganha mas joga-se bem, outras joga-se mal mas ganha-se. Tanto quanto transparece da notícia são factores positivos «manter como principal preocupação o saneamento financeiro da câmara» e ainda o facto do orçamento «não ter, na generalidade, um carácter eleitoralista». Quanto a este último, se for verdadeiro, irei reequacionar a possibilidade de ir votar nas próximas eleições autárquicas, correrei a encher uma proposta para sócio do Boavista e Loureiros, SA e prometo um «post» de apoio ao tal circuito automobilístico da Boavista 2005. A mais alargada manifestação de índole social desta incompreendida Câmara. Só não prometo estar presente: apavora-me o barulho de tantos bólides, assusta-me a probabilidade de ser atropelado e não sei com quantas vénias hei-de saudar o talvez visconde Marionicha Cabral. Além disso, com tanta gente que se espera nem a Fnac teria bilhete para mim e o mercado negro é solução que não penso adoptar. Para mais nem sequer caberia em nenhum lugar, esparramado contra as cordas na ânsia de acenar pequeninas bandeiras ao septuagenário Stirling Moss.
O orçamento parece ser uma peça reservada a que, para além da vereação, apenas o SIS pode ter acesso. De forma que a sua leitura tem que fazer-se nas entrelinhas das notícias que alguns profissionais da comunicação social foram incumbidos de redigir. Por um lado salienta-se a preocupação da vereação com o problema da habitação social e a verba que o orçamento lhe consagra. Por outro condiciona-se a disponibilização dessas verbas aos proveitos obtidos na venda de habitações camarárias. O acto, em si próprio, parece surrealista: a Câmara vende habitação social para financiar habitação social, quer dizer, vira o disco e toca o mesmo. Mesmo que por formação profissional me situe na área nunca fui capaz de entender aquilo a que novos eufemismos chamam contabilidades criativas. Provavelmente por falta de vocação artística, concedo sem rebuço. E, já agora, sem parecer dos auditores ou certificação dos revisores de contas.
Mas Deus me acuda que mais surrealista ainda é a argumentação desfraldada pelos vereadores socialistas. O propósito está correcto e estes seis homens bons de que a cidade se orgulha e que os funcionários respeitam, comandados pelo engenheiro Gaspar na condição de chefe de quina, entendem que «a fórmula como se tem procurado levar os moradores a comprar tem sido incorrecta», porque muitos «preferem pagar o aluguer a ter a responsabilidade do condomínio e da contribuição autárquica». E lembra-se ainda que a prova de que a fórmula é errada é o facto de, em 2004, em 723 casas municipais, só cinco foram vendidas. Além disso, objectivamente, o orçamento é «demasiado restritivo e redutor». Não diz em quê nem isso são contas do nosso rosário, mas um orçamento demasiado restritivo já é uma afronta. Como se isso lhe não bastasse ainda faltava que fosse redutor. Redutor é que nunca, ó santa Câmara, nem por cima dos nossos cadáveres, que fique expresso. Ainda por cima quando isso tem a ver com «os caminhos de alguma incerteza nalgumas rubricas, principalmente das despesas e receitas». O problema, pelos vistos, é de marketing e de falta de empenho dos vereadores-vendedores que não atingiram os objectivos, mesmo que tivessem em mãos um produto de primeira necessidade, como as batatas da Póvoa ou os nabos de Gondomar que, como se sabe, as lojas do Continente vendem sem anúncios e sem demonstradores. Não tivesse a sua acção sido incompreensivelmente restritiva e alarvemente redutora. E não se compreende sequer que «a falta de visão tenha sido a grande marca deste executivo», tanto mais que a cidade dispõe de oftalmologistas nos hospitais SA e nas clínicas privadas, não há listas de espera na mesa de trabalho do ministro da saúde e os vereadores, mesmo que destrambelhados oposiocionistas, estão magnanimamente abrangidos pelos serviços de protecção da ADSE.
O vereador da CDU abrigou-se da chuva que, aliás, tem andado muito mais arredia do que o frio. E até porque, entre outras coisas, há que poupar as reservas estratégicas dos SMAS e qualquer cargo que a elas possa andar associado. E assim objectivamente refere que o orçamento tem coisas boas e coisas más. Como na filosofia futeboleira do treinador do Sporting: umas vezes não se ganha mas joga-se bem, outras joga-se mal mas ganha-se. Tanto quanto transparece da notícia são factores positivos «manter como principal preocupação o saneamento financeiro da câmara» e ainda o facto do orçamento «não ter, na generalidade, um carácter eleitoralista». Quanto a este último, se for verdadeiro, irei reequacionar a possibilidade de ir votar nas próximas eleições autárquicas, correrei a encher uma proposta para sócio do Boavista e Loureiros, SA e prometo um «post» de apoio ao tal circuito automobilístico da Boavista 2005. A mais alargada manifestação de índole social desta incompreendida Câmara. Só não prometo estar presente: apavora-me o barulho de tantos bólides, assusta-me a probabilidade de ser atropelado e não sei com quantas vénias hei-de saudar o talvez visconde Marionicha Cabral. Além disso, com tanta gente que se espera nem a Fnac teria bilhete para mim e o mercado negro é solução que não penso adoptar. Para mais nem sequer caberia em nenhum lugar, esparramado contra as cordas na ânsia de acenar pequeninas bandeiras ao septuagenário Stirling Moss.
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