Garrett
Eis-te João Baptista, aí estás tu! Hoje, dia 9 de Dezembro de 2004, quando se completam 150 anos sobre a data da tua morte. Sem que ninguém te celebre, sem que ninguém te estime, sem que ninguém ao menos te considere um desses gigantescos plátanos à sombra dos quais a cidade se fez e que, sem apelo nem agravo, são abatidos como se fossem silvas, a pretexto do progresso e das obras do metro. Em frente à Câmara do Porto, tua cidade natal, a esperar sentado, porque muito vais ter que esperar e melhor é que o faças em descanso.
Aí estás tu, João Baptista, andarilho de muitos caminhos, peregrino de grandes crenças, abandonado ao frio de Dezembro. De costas para a câmara, exposto aos dejectos das pombas e ao desprezo ignorante da vereação. Aí estás tu, nobre visconde de Almeida Garrett, virado para a Praça Nova, com tapumes que te escondem as obras de Santa Engrácia e as prepotências desse tão absoluto D. Miguel que tão absolutamente combateste. Entaipado entre uma árvore de Natal, toda de plástico, e um presépio cujas figuras, com os olhos em bico, foram importadas algures do oriente. Quase pareces um pastor de transumância, levando o rebanho para terras baixas onde a geada poupe os pastos e a subsistência te obrigue à ordenha das ovelhas e ao fabrico artesanal do queijo. Porque este original presidente da Câmara, por postura municipal, despromoveu a ovelhas todas as vacas que por ali se apascentavam. Ou, mais sabedor de política do que de pecuária, mais guarda-livros do que tabelião, muito naturalmente se limitou a confundir umas com outras.
Cabelos em desalinho, a barba por fazer, o jaquetão coçado e feito em trapos. Não sei onde escondes o magro farnel que de certeza carregas no bornal nem a pinga ordinária que no cantil vai a caminho de vinagre. Coisas impróprias de viscondes, mas a isso chegaste e reza a Deus para que pior te não aconteça, que isto já vale tudo. Falta-te o bastão a que te arrimes para partires à procura de melhor morada, onde mais te estimem e melhor te acolham, que muito melhor é que assim faças. Ninguém, meu amigo, é profeta na sua terra. Nenhuma causa afinal vale a romântica rima de um soneto ou o discurso empolgado de uma cena do último acto.
Aí estás tu, João Baptista, andarilho de muitos caminhos, peregrino de grandes crenças, abandonado ao frio de Dezembro. De costas para a câmara, exposto aos dejectos das pombas e ao desprezo ignorante da vereação. Aí estás tu, nobre visconde de Almeida Garrett, virado para a Praça Nova, com tapumes que te escondem as obras de Santa Engrácia e as prepotências desse tão absoluto D. Miguel que tão absolutamente combateste. Entaipado entre uma árvore de Natal, toda de plástico, e um presépio cujas figuras, com os olhos em bico, foram importadas algures do oriente. Quase pareces um pastor de transumância, levando o rebanho para terras baixas onde a geada poupe os pastos e a subsistência te obrigue à ordenha das ovelhas e ao fabrico artesanal do queijo. Porque este original presidente da Câmara, por postura municipal, despromoveu a ovelhas todas as vacas que por ali se apascentavam. Ou, mais sabedor de política do que de pecuária, mais guarda-livros do que tabelião, muito naturalmente se limitou a confundir umas com outras.
Cabelos em desalinho, a barba por fazer, o jaquetão coçado e feito em trapos. Não sei onde escondes o magro farnel que de certeza carregas no bornal nem a pinga ordinária que no cantil vai a caminho de vinagre. Coisas impróprias de viscondes, mas a isso chegaste e reza a Deus para que pior te não aconteça, que isto já vale tudo. Falta-te o bastão a que te arrimes para partires à procura de melhor morada, onde mais te estimem e melhor te acolham, que muito melhor é que assim faças. Ninguém, meu amigo, é profeta na sua terra. Nenhuma causa afinal vale a romântica rima de um soneto ou o discurso empolgado de uma cena do último acto.
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