As reformas
O país clama por reformas desde a idade média. À falta de comunidade internacional que desse pelo nome, ainda não tinha sido reconhecido pela suprema autoridade do Papa e já o fazia. De forma original que a soma dos anos foi progressivamente transformando em obtusa. Fá-lo sempre a partir da oposição, e nem mesmo o regime autoritário a que o sujeitou o Estado Novo alterou esta ordem de ideias. O poder, por seu lado, afirma e reafirma as reformas feitas e aquelas que estão em curso. Sem que ninguém dê por elas e seguramente sem que alguém, levemente que seja, se aperceba dos seus resultados.
Ainda não há três meses que o engenheiro Sócrates garantiu nas urnas o exercício ditatorial do poder - a que chama estabilidade - por quatro anos e já deu o dito por não dito, aumentou as manifestações públicas de hipocrisia e salientou, batendo piamente com a mão no peito, o seu desinteressado patriotismo e o de todo o seu gabinete. O governo que dirige tem sido como um cão que morde pela calada. Não se lhe ouve um latido e, de repente, temo-lo ferrado à barriga das pernas.
Mas, honra lhe seja feita: o país clamava por reformas e aí as tem. Nunca houve tantas, e tão materialmente significativas, em tão pouco tempo. São, pelo menos, as do ministro das finanças, do ministro das comunicações e do governador-geral da Madeira. Surrealista é que o primeiro tenha convocado apressadamente os jornalistas, a um sábado à tarde, sem revelação prévia da razão e que estes, reverentes e obrigados, tenham acorrido diligentes e dóceis, como carneiros. Para ouvirem uma curta declaração que, não fosse a forma tosca e descuidada, poderia confundir-se com a sábia ironia de uma poema de Alexandre O'Neil.
É um homem de tomates o senhor Ministro das Finanças! Embora a globalização leve a crer que tenham sido criados em estufa e chegados de Espanha, sem necessidade de qualquer filtro alfandegário ou controlo de qualidade. Diz ele, antes que ninguém o faça, que a pensão que aufere por seis anos ao serviço doBando Banco de Portugal é legal - o que não se discute - e legítima - o que não se vislumbra! E acrescenta até, para que não subsistam dúvidas, estar ele próprio envolvido na redacção de legislação que há-de sobrecarregar o fraco e - termo espúrio e moderno - agilizar o forte. Ao mesmo tempo que se declara prejudicado, como funcionário público e guarda-livros chefe do país, com o aumento da idade de reforma para os 65 anos. Quando afinal se sabe que é reformado pelo Bando Banco de Portugal desde os 49 anos de idade, com a pensão mensal de 8.000 euros, cerca de 1.600 contos. Ridícula, se a compararmos com o ordenado do senhor Simão Sabrosa ou do senhor Costinha, a quem também chamam ministro, mas sem pasta de carregar papéis. E deixa irremediavelmente em pranto todas as respeitáveis viúvas de mais de oitenta anos de idade quando revela que, pessoalmente, será atingido pelo escalão de 42% que ele próprio recentemente criou no âmbito do IRS. À semelhança aliás do que igualmente irá acontecer com o Xico da Jaquina, picheleiro por conta própria, morador nas Escadas do Codeçal, mas sem nenhuma pensão do Bando Banco de Portugal.
P.S. - A D. Judite de Sousa, que o país conhece como carinhosa esposa de um benfiquista ferrenho e que, se lho perguntarem, responderá sem hesitações exercer a profissão de jornalista, tem a faculdade de confundir as coisas com a mesma facilidade com que a que a luz se propaga no vácuo. Tanto assim que agora confunde excelência com dinheiro quando, numa croniqueta que lhe pagam para escrever semanalmente, pergunta se será possível levar para o Governo a excelência quando um ministro ganha setecentos contos por mês e responde de imediato que não. Mesmo sabendo-se que os lugares de ministro não são preenchidos por concurso público, invariavelmente repetido por falta de concorrentes e que os candidatos se atropelam na fila, em bicos de pés, gesticulando a ver se alguém repara neles. Acontecendo mais, segundo me garantem de fonte segura: que o Xico da Jaquina, picheleiro por conta própria, morador nas Escadas do Codeçal, nem responde aos concursos nem participa da fila. Nem vai ser ministro, apesar da falta de excelência para as contas públicas!
Ainda não há três meses que o engenheiro Sócrates garantiu nas urnas o exercício ditatorial do poder - a que chama estabilidade - por quatro anos e já deu o dito por não dito, aumentou as manifestações públicas de hipocrisia e salientou, batendo piamente com a mão no peito, o seu desinteressado patriotismo e o de todo o seu gabinete. O governo que dirige tem sido como um cão que morde pela calada. Não se lhe ouve um latido e, de repente, temo-lo ferrado à barriga das pernas.
Mas, honra lhe seja feita: o país clamava por reformas e aí as tem. Nunca houve tantas, e tão materialmente significativas, em tão pouco tempo. São, pelo menos, as do ministro das finanças, do ministro das comunicações e do governador-geral da Madeira. Surrealista é que o primeiro tenha convocado apressadamente os jornalistas, a um sábado à tarde, sem revelação prévia da razão e que estes, reverentes e obrigados, tenham acorrido diligentes e dóceis, como carneiros. Para ouvirem uma curta declaração que, não fosse a forma tosca e descuidada, poderia confundir-se com a sábia ironia de uma poema de Alexandre O'Neil.
É um homem de tomates o senhor Ministro das Finanças! Embora a globalização leve a crer que tenham sido criados em estufa e chegados de Espanha, sem necessidade de qualquer filtro alfandegário ou controlo de qualidade. Diz ele, antes que ninguém o faça, que a pensão que aufere por seis anos ao serviço do
P.S. - A D. Judite de Sousa, que o país conhece como carinhosa esposa de um benfiquista ferrenho e que, se lho perguntarem, responderá sem hesitações exercer a profissão de jornalista, tem a faculdade de confundir as coisas com a mesma facilidade com que a que a luz se propaga no vácuo. Tanto assim que agora confunde excelência com dinheiro quando, numa croniqueta que lhe pagam para escrever semanalmente, pergunta se será possível levar para o Governo a excelência quando um ministro ganha setecentos contos por mês e responde de imediato que não. Mesmo sabendo-se que os lugares de ministro não são preenchidos por concurso público, invariavelmente repetido por falta de concorrentes e que os candidatos se atropelam na fila, em bicos de pés, gesticulando a ver se alguém repara neles. Acontecendo mais, segundo me garantem de fonte segura: que o Xico da Jaquina, picheleiro por conta própria, morador nas Escadas do Codeçal, nem responde aos concursos nem participa da fila. Nem vai ser ministro, apesar da falta de excelência para as contas públicas!
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