9 de setembro de 2005

Reflexão

Contra minha vontade e depois de muito porfiar nesse sentido, fui convidado para me candidatar a presidente da associação dos antigos alunos da escola primária do fundo do vale. A escola foi encerrada há vinte anos, vendida a particulares, por três vezes, para residência ocasional de férias e consumida pelas labaredas dos incêndios dos três últimos anos. Mesmo apesar das rigorosas medidas de prevenção dos diversos governos em funções, das imegans difundidas pelas televisões, dos baldes de água despejados pelos helicópteros e das inflamadas intervenções dos ministros da administração interna, incluindo os do engenheiro Ângelo Correia.

Todo o mobiliário, roído pelo bicho da madeira, foi inexoravelmente consumido pelo fogo. O quadro preto partiu-se. O que restava da caixa de giz desapareceu. A liga dos amigos da escola ficou reduzida ao seu tesoureiro, sem dinheiro e sem instalações sanitárias que possa utilizar para as suas (dele) necessidades. Tenho sido pressionado por ele e pela alma de todos os restantes, cujos restos mortais repousam no velho cemitério, milagrosamente poupado às sucessivas tragédias.

Embora decidido, estou muito indeciso sobre como e quando anunciar essa decisão. De forma que entro em período de reflexão para consultar a família, mesmo a afastada, os amigos, o outro colega de escola ainda sobrevivo e os animais de estimação. Mesmo assim, e considerando que tenho a decisão tomada e levo os trabalhos de casa feitos, anunciarei a decisão no próximo dia 20, algures entre as zero e as vinte e quatro horas, no recreio da escola ou no que resta do pinhal fronteiro. Assim que estiver presente a querida televisão de serviço público, depois do operador de imagem ter galgado, a corta-mato, monte acima. Até lá, apoiem-me!

3 Comentários:

Às 11:23 da manhã , Blogger Biranta disse...

Ora aqui estou eu a apoiar o meu caro amigo para que aceite incondicionalmente este grande desafio. Com um abraço do Raul

 
Às 4:42 da tarde , Blogger mfc disse...

É deveras triste o que se vê por este país a dentro.
Um post oportuno e com uma ironia que muito apreciei.
Um abraço.

 
Às 5:39 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Apoio como?
Como amigo ou como fanático?
É que, caro amigo, isto a vida compadece-se muito pouco com carolices e poucos lhe vão reconhecer o mérito. Se fizer pouco menosprezam-no se fizer alguma coisa que se veja invejam-no e desconfiam das suas 'verdadeiras intenções'.

Apoio-o no que a sua consciencia lhe ditar.

Um abraço,
Francisco Nunes

 

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