12 de abril de 2007

O estado da Nação

Parece que José Sócrates foi ontem à televisão. Quando quis, como quis e para dizer o que quis. Entrou em campo já depois de expirado o tempo de descontos, com o jogo terminado, o árbitro contestado e o resultado considerado injusto por todos os contendores, incluindo o "special one", também conhecido pela alcunha de José Mourinho. Parece ter dito não estar fragilizado pelas muitas dúvidas que sobre as suas habilitações académicas assolam o país exterior ao seu gabinete de primeiro ministro. Nem pelas só certezas que lhe povoam as 24 horas do dia e os cadernos escolares que, a título de recordação, mantém à guarda da sua progenitora, algures numa aldeia de província. Nem podia estar fragilizado!

De facto num país onde a iliteracia campeia nada fragiliza ninguém, nem um analfabeto que persista no pastoreio e na transumância, de cajado na mão e cantil de tinto a tiracolo. Muito menos alguém de boas famílias, que tenha feito o exame do segundo grau com distinção, recebido o primeiro relógio de pulso como prémio, frequentado a catequese, aprendido o catecismo e feito a primeira comunhão todo vestido de branco como um dos anjinhos das imagens pintadas nos tectos das catedrais. Muito menos quem contabiliza mais de sete anos de estudos superiores, sempre com salas de aula situadas acima do sétimo andar do edifício, alguns dos quais de forma penosa, ao abrigo do estatuto de trabalhador estudante, acumulando com as funções eminentemente patrióticas de preparar a felicidade dos portugueses numa das bancadas do parlamento.

Afinal o país pode, e deve, orgulhar-se dos políticos que lhe governam o destino. Porque quando os julga madraços, faltosos, oportunistas, aldrabões e corruptos pode certificar-se que, afinal, há deputados estudantes, secretários de estado estudantes, ministros estudantes e até, provavelmente, presidentes de junta de freguesia estudantes. Que acumulam o sacrificado exercício de funções patrióticas com a miserável retribuição e com a nobre intenção de valorização pessoal para garantirem um maior contributo pessoal para a economia e a produtividade. E para a qualidade de vida dos portugueses: com taxas de juro mais elevadas, batatas mais caras - sem preços controlados pelo major do apito! -, desemprego mais forte e o investimento reduzido a estudos centenários sobre a localização do aeroporto da Ota e à renovação, por colapso, de condutas na baixa do berço do Dr. Rio!

6 Comentários:

Às 11:31 da manhã , Blogger Meg disse...

Vim,vi e como sempre gostei... como sabes.
Também gostei da citação de hoje.
Um abraço insignificante

 
Às 7:26 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

O teu Cabo Raso merece-me uma espreitadela obrigatória.
Gosto do humor dos artigos e, mais do que tudo, deliciam-me as ligações que estabeleces entre assuntos de alguma seriedade e os factos mais banais do nosso quotidiano,saindo os primeiros seriamente ridicularizados quando os pões em paralelo com os segundos.
Fico à espera de mais!

 
Às 9:39 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

LFV, a tua escrita fascina-me!
Fátima

 
Às 1:28 da manhã , Blogger bettips disse...

Pois...e quem falou em disponíveis? Vamos lá aos fait divers, pintando cara de hónestos. Trabalham, estudam, vão para ministros... faz-me lembrar aquela senhora que até anda agora numa fundação, uma mãe de família, uma mulher de armas, uns grandes protugueses e protuguesas, não nos merecem, ou melhor, a gente preferia não os ter herdado... Abç

 
Às 12:37 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Quanta e tão fascinante ironia!
Um abraço
Insignificante Lara

 
Às 12:46 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Insignificante... só agora vejo que parece estar na berra, esta palavra. Tenho-a lido por aí. Vou adoptá-la, pois é o que sinto perante os teus escritos... a minha insignificância. Logo...
Um abraço da
Insignificante Lara

 

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