O referendo
Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?
Segundo os jornais começa hoje, oficialmente, a campanha para o referendo de 11 de Fevereiro. Aquele em que os portugueses, maiores de 18 anos, obrigatoriamente recenseados, responderão sim ou não, pelo infalível método da moeda ao ar, a uma pergunta curta, simples, directa, de fácil interpretação que diverte miúdos no segundo ano de escolaridade e revolta virgens beatas de 80 anos que nunca se acolheram em nenhum convento nas proximidades da paróquia.
A pergunta foi aprovada por sacrificados deputados, convictos do sentido patriótico das suas funções e da natureza ridícula dos seus honorários. Alguns, por menor convicção, até votaram contra, mantêm o propósito de votar não e escrevem artigos nos jornais como o Dr. António Pires de Lima que garante nunca ter abortado e, mais do que isso, saber a pergunta de cor e salteado, embora sem lhe perceber muito bem o sentido. E defende, seguramente, que razão tinha o deputado Morgado quando proclamava, alto e bom som, que o acto sexual era para fazer filhos enquanto exibia, orgulhoso, o seu rebento varão, alto e espadaúdo, como foi o Dr. Marques Mendes duas ou três encarnações atrás. Enquanto a D. Natália Correia, Deus a tenha no seu eterno descanso, escreveu poemas épicos, disse-nos no S. Carlos, frequentou tabernas, tascas e botequins, bebeu demais, fumou desalmadamente, diz-se que passou a vida no truca-truca e para quê? Onde está a descendência?
A pergunta, de resto, é uma epopeia, um poema cuja paternidade, sem interrupção nenhuma, poderia pertencer ao Dr Graça Moura ou, mais modestamente, ao senhor Manuel Alegre. Ambos poetas pela universidade clássica e deputados por acidente e nas horas vagas, sendo um fervoroso adepto do Benfica e não se conhecendo ao outro inclinação clubista que se aproxime do vermelho, para além do laranja. Mais do que isso, é uma das mais finas e heróicas ilustrações do senhor José Vilhena, toda de mamas de fora e cuequinhas de renda como as sopeiras de antigamente, a que os patrões, à socapa e nos cantos escuros dos corredores, levantavam as saias e apalpavam as nádegas. E que, sabendo a senhora ausente, de visita à mulher do governador civil ou entregue à solidariedade de uma venda a favor dos pobrezinhos de espírito, seriam mesmo capazes de a atravessar na cama do quarto nas águas furtadas e de lhe por as calças em cima. Obviamente sem a mesma convicção com que o já referido deputado Morgado fabricou o herdeiro.
A pergunta é um texto do libertino senhor Luís Pacheco, uma anedota de salão dita pelos humoristas cultos que o país não tem e que o povo não percebe, uma ode triunfal que ainda cheira ao bagaço das tabernas onde Fernando Pessoa bebeu até à cirrose e ao mosteiro dos Jerónimos. E se este se não pronunciou sobre o assunto foi porque não ia à missa e a Ofélia lhe não deu autorização para que saltasse pela janela, para dentro do seu quarto e para cima da sua cama. A pergunta contribuiu para superar a crise económica e para levar o ministro a respeitar o código da estrada. Há excursões que se fazem a S. Bento só para tocar as pedras do hospício onde tal coisa, sem aborto e sem cesariana, foi parida. Viajou para a Índia na bagagem do Dr. Cavaco, ornamenta os ramos das árvores que ele plantou e que, à falta de rega, secaram. Faz parte do farnel da comitiva que o engenheiro Sócrates levou de passeio até à grande muralha da China, está à mesa de cabeceira do Dr. Soares, à espera das próximas eleições presidenciais e da extrema unção. Como a Toyota, veio para ficar. E ficou mesmo!
A pergunta foi aprovada por sacrificados deputados, convictos do sentido patriótico das suas funções e da natureza ridícula dos seus honorários. Alguns, por menor convicção, até votaram contra, mantêm o propósito de votar não e escrevem artigos nos jornais como o Dr. António Pires de Lima que garante nunca ter abortado e, mais do que isso, saber a pergunta de cor e salteado, embora sem lhe perceber muito bem o sentido. E defende, seguramente, que razão tinha o deputado Morgado quando proclamava, alto e bom som, que o acto sexual era para fazer filhos enquanto exibia, orgulhoso, o seu rebento varão, alto e espadaúdo, como foi o Dr. Marques Mendes duas ou três encarnações atrás. Enquanto a D. Natália Correia, Deus a tenha no seu eterno descanso, escreveu poemas épicos, disse-nos no S. Carlos, frequentou tabernas, tascas e botequins, bebeu demais, fumou desalmadamente, diz-se que passou a vida no truca-truca e para quê? Onde está a descendência?
A pergunta, de resto, é uma epopeia, um poema cuja paternidade, sem interrupção nenhuma, poderia pertencer ao Dr Graça Moura ou, mais modestamente, ao senhor Manuel Alegre. Ambos poetas pela universidade clássica e deputados por acidente e nas horas vagas, sendo um fervoroso adepto do Benfica e não se conhecendo ao outro inclinação clubista que se aproxime do vermelho, para além do laranja. Mais do que isso, é uma das mais finas e heróicas ilustrações do senhor José Vilhena, toda de mamas de fora e cuequinhas de renda como as sopeiras de antigamente, a que os patrões, à socapa e nos cantos escuros dos corredores, levantavam as saias e apalpavam as nádegas. E que, sabendo a senhora ausente, de visita à mulher do governador civil ou entregue à solidariedade de uma venda a favor dos pobrezinhos de espírito, seriam mesmo capazes de a atravessar na cama do quarto nas águas furtadas e de lhe por as calças em cima. Obviamente sem a mesma convicção com que o já referido deputado Morgado fabricou o herdeiro.
A pergunta é um texto do libertino senhor Luís Pacheco, uma anedota de salão dita pelos humoristas cultos que o país não tem e que o povo não percebe, uma ode triunfal que ainda cheira ao bagaço das tabernas onde Fernando Pessoa bebeu até à cirrose e ao mosteiro dos Jerónimos. E se este se não pronunciou sobre o assunto foi porque não ia à missa e a Ofélia lhe não deu autorização para que saltasse pela janela, para dentro do seu quarto e para cima da sua cama. A pergunta contribuiu para superar a crise económica e para levar o ministro a respeitar o código da estrada. Há excursões que se fazem a S. Bento só para tocar as pedras do hospício onde tal coisa, sem aborto e sem cesariana, foi parida. Viajou para a Índia na bagagem do Dr. Cavaco, ornamenta os ramos das árvores que ele plantou e que, à falta de rega, secaram. Faz parte do farnel da comitiva que o engenheiro Sócrates levou de passeio até à grande muralha da China, está à mesa de cabeceira do Dr. Soares, à espera das próximas eleições presidenciais e da extrema unção. Como a Toyota, veio para ficar. E ficou mesmo!
4 Comentários:
Sem brincar: repara e subsitui as palavras certas, assim -
do jogo ...
do árbitro ...
1ºs 10 minutos ...estádio do Euro. Aposto que a votação seria em massa, ganhando o "não" da bancada. Hipócritas! Evidente que lhes interessa mais o jogo de futebol do que o aborto que a mulher fez, às escondidas. Um abraço, amigo.
Gosto do humor caustico!... Mas já agora uma pergunta: Podia qualquer homen pôr esta questão de uma maneira melhor do que esta?
27 boas e verdadeiras razões para se votar sim no referendo do aborto
Porque é um direito a mais que conquistamos
Porque é um dever a menos que suportamos
Porque os países civilizados têm
Porque é sinal de modernidade
Porque a Igreja é contra
Porque é mais uma causa
Porque o Estado alguma vez é meu amigo
Porque é o principal problema deste país
Porque assim está-se mais à vontade
Porque, pela 1ª vez, se pode ter "desvios" sem impunidade
Porque temos que compensar as mulheres da violência doméstica
Porque assim controlo melhor o meu destino
Porque a barriga é minha e só lá está quem eu deixo
Porque já andamos nisto há uma porrada de tempo
Porque, ao menos, dão-me prioridade uma vez na vida.
Porque eu choro e os fetos não choram
Porque até fica bem no currículo
Porque eu não sei o que isso do amor maternal
Porque me convém
Porque eu não quero que eles saibam e nem quero assumir
Porque eu, mãe, quero vingar-me do pai
Porque é mainstream
Porque eu quero
Porque é da esquerda ou da direita moderna (neo-liberal)
Porque ele não fala nem vê e eu sou mais forte
Porque é mais um passo
Porque sim
Felizmente, lá ficou o PS com a batatinha quente na mão. Assumam-se! A ver se isto quer dizer que se está a ganhar "alguma consciência" do país anacrónico onde vivemos. Abç
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