18 de janeiro de 2007

A silvicultura

Por deformação ou desvio psíquico, valha-me Deus, acredito tanto nos políticos como em historiadores como o Dr. Pacheco Pereira ou em professores universitários como o Dr. Prado Coelho. Mas, provavelmente por muito maior deformação, acredito sem restrições ou constrangimentos nas políticas delineadas por este intelectualizado grupo de eméritos programadores de um país maltrapilho e analfabeto, que manda o Dr. Cavaco à descoberta da Índia onde, pelos vistos, o mesmo se dedica à silvicultura e planta árvores.

Pessoalmente elevo os olhos para lá dos mais altos cirros e agradeço a Deus sempre que uma pomba, em plena rua de Santa Catarina, me sobrevoa e, com vossa licença e o perdão do Altíssimo, me caga no cocuruto da cabeça. Seria de facto muito pior se as vacas voassem e se, por razões de mercado, andassem aos preços de saldo na mesma zona: o tamanho da bosta seria bem maior. E o impacto, necessariamente, bem mais trágico!

Dois dias atrás o primeiro ministro anunciou que o país seria diferente daqui a sete anos, depois de uma coisa que, segundo as normas do simplex, designaram por QREN. O que, obviamente, nem seria preciso. O país, de facto, muda a cada instante. Invariavelmente para pior, inevitavelmente para o nosso bem e para um melhor futuro dos nossos filhos. É isso que me conforta, é isso que patrioticamente - continuo a desconfiar do termo! - me anima a ir votar no referendo sobre o aborto. Mesmo que ainda não saiba se hei-de votar sim, se hei-de votar não ou se hei-de até votar nim para contemplar a erudição e a clareza das explicações adiantadas por homens que, por mera questão de privacidade pessoal, não revelam se já terão ou não abortado na vida.

Aníbal, nome fictício, é pensionista, candidato vitalício a concorrente do Preço Certo e, uma vez por outra, participante nos questionários da Marktest sobre a gripe das galinhas, a utilização dos radares nas ruas de Lisboa e as vantagens que ao país traria a reconquista de Olivença, nem que fosse pela força! Sendo fictício, não tem nada a ver com outros anibais que possam flutuar pelo mercado, detentores de quatro pensões de reforma, dois empregos a tempo parcial, quatro carros de serviço e trinta e cinco assessores, além de uma casa prefabricada para férias e um lugar para montar tenda no parque de campismo da Boca do Inferno.

Aníbal, nome fictício, é pensionista da Caixa Geral de Aposentações há cerca de quatro anos. Até hoje não beneficiou do aumento de um só cêntimo no valor da pensão, mas orgulha-se de, em contrapartida e apesar disso, nunca ter sido marginalizado nos aumentos dos impostos, da água, da electricidade e das portagens das auto-estradas. E nunca como este ano o governo e o orçamento do estado lhe elevaram tanto o orgulho pessoal e a auto-estima! O orçamento levou-lhe, patrioticamente, cerca de cinco por cento daquilo que recebia. E ele ficou feliz e tranquilo quando pensou, justificadamente, que os mesmos estariam a ser investidos na florestação da Índia...

1 Comentários:

Às 1:42 da tarde , Blogger bettips disse...

A tua tranquila lucidez é que nos (me) faz falta. Poetas há muitos, somos um país deles, bons também. Morrem em rodapé do pensamento. Indias e Argélias. Vascos de gana.
Não foi Cronus quem comeu os próprios filhos? Fica a imagem mitológica do comer pelo poder, como estes governantes do vácuo nosso. Além de que esta imagem serve para referendo. Muitos os matam quando os negam e deixam o horror para a parceira. Já viste "ejaculadores" no banco dos réus?. Ultimamente vi um e no lugar de vítima!!!! Abç

 

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