14 de janeiro de 2007

Pimenta Machado

O país, entregue a um sábado de sol, morno e brilhante, nem quase se deu conta de que Pimenta Machado voltara ontem aos noticiários da rádio. Pimenta Machado esteve para o Vitória de Guimarães como D. Afonso Henriques tem estado para a nacionalidade: a título vitalício. Hoje, como se sabe, estão ambos a título póstumo! Com a diferença de se não saber se Pimenta Machado algum dia terá batido na mãe, embora a ama que se ocupou dos seus primeiros passos o classifique como brilhante em tudo, até na aprendizagem do catecismo. Depois o país habituou-se, com vossa licença, a não se admirar com coisas de merda. Que interessa lá o roubo, o peculato, a corrupção ou a pedofilia? Estivesse em causa a gravidez da D. Elsa Raposo, o anonimato do respectivo responsável, a lua de mel do Sr Paulo Sousa, o mandato, contrariado a exausto, do Dr. Madail e as coisas mudavam de feição!

Mas razão tem o governo e tenho-a eu próprio para arrasarmos a classe dos jornalistas. Sem formação, sem cultura, sem rigor e sem profissionalismo. Claro que nenhum país pode orgulhar-se de só ter Luíses Delgados na classe, o que seria como aspirar ao euromilhões após o décimo jackpot, ou mais. Bem prega o Dr. Pacheco Pereira, remunerado ou não, por imposição patriótica ou outra, mas este país não merece os heróis que tem. Por acaso será condenável que Pimenta Machado tenha contas bancárias na Suiça? Então ele será o único? Então não haverá suiços que as têm também nos bancos da baixa pombalina? Então não há até motoristas de táxi e respectivos tios, ou padrinhos, ou presidentes não sei de quê que também as têm?

Mais do que isso! Parece que Pimenta Machado deu instruções ao guarda-livros do Vitória de Guimarães sobre o valor a inscrever na contabilidade pela transferência do Sr Fernando Meira. Então quem deveria dar essas instruções? O roupeiro, um apanha-bolas? E ele era um verbo de encher? Um presidente para cortar fitas com o marinheiro Thomaz de idas memórias? Parece ainda que ele próprio definiu o valor da comissão que lhe deveria ser paga pelo serviço. Mais do que justa e, aliás, perfeitamente ridícula. Onde está o mal? Deveria ser presidente, entregar-se à causa e andar ali para encher pneus? Claro que não! A isso de encher pneus já nem o presidente do Benfica se dedica há uns anos: manda os outros!

Pimenta Machado é simplesmente um incompreendido. Como sempre foi e como o é também o ministro da saúde. Porque, de facto, Pimenta Machado é um herói, um presidente deposto, ou sem posto, que justifica uma estátua no Largo das Oliveiras. Porque o que fez foi apenas salvaguardar da sanha ameaçadora do orçamento do estado alguns milhares de euros, subtraindo-os ao espírito despesista dos ministros e dos seus assessores. E, mais do que isso, pô-los a salvo nos seguros cofres de um qualquer banco suiço. Então isso não é um acto patriótico, do mais puro e genuíno interesse nacional?

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