26 de março de 2007

Tratado de Roma

Parece que o Dr. Cavaco dá hoje, algures e à nossa custa, um jantar comemorativo dos 50 anos da assinatura do tratado de Roma. E os noticiários de ontem salientavam o facto do Dr. Soares se não ir sentar à mesa dos convivas, apenas por não ter sido convidado. De forma exemplar e original a própria União Europeia vem celebrando, sem bolos e sem velas de aniversário, o cinquentenário de um cadáver adiado, a ser formalmente devorado por 27 vermes, com mais uma série deles espreitando a sua vez, dos balcãs ao estreito do Bósforo.

A simples perspectiva do Dr. Soares ficar sem jantar constitui mais um drama para o país, sempre atento aos sem abrigo, à sopa que lhes falta nas noites de inverno e ao impacto que uma simples refeição, a expensas próprias, provocaria na economia doméstica do excelso esposo da D. Maria, beneficiário de uma pensão mínima do regime geral. Para dar o exemplo da justiça que apregoa o licenciado em engenharia civil José Sócrates, no desempenho, a tempo parcial e com o salário mínimo, do cargo de primeiro ministro.

O país pode viver com desemprego, tuberculose, vitórias folgadas da selecção nacional de futebol sobre a Bélgica, encerramento de empresas e multas fiscais por entrega do IRS fora de prazo. Definitivamente o país é sensível a todos os dramas importantes, e convive mal com eles. Impacienta-se, excita-se, deprime-se, emociona-se, perde-se num choro convulsivo sempre que a D. Lili Caneças se submete a nova recauchutagem ou que um residente da linha empunha a faca do bife como se fosse um serrote de poda, ignorando toda a erudição dos manuais de etiqueta da D. Paula Bobone.

Desta vez, como aliás das anteriores, eu também não fui convidado para o jantar do Dr. Cavaco. Os estafetas que, empunhando protocolos, correm todo o dia entre Belém e S. Bento também não. O Francisco, sem abrigo que o Dr. Rio ainda não conseguiu reciclar, também não e, à falta do champanhe de Reims, vai-se contentando com a cerveja do tasco ao lado das arcadas onde dorme. Sendo certo que nenhum foi ou é notícia, pelo menos por este motivo. E sendo ainda certo que, pelo menos eu, tenho contribuído para todos esses peditórios... Compulsivamente, é claro!

2 Comentários:

Às 1:49 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

Tantas flores, num só mês, e todas de rajada!!!
Gosto muito, muito desta ironia. Nem o Eça faria melhor! Imitaste-lhe o estilo e apuraste-o?
Beijos

 
Às 8:06 da manhã , Blogger Meg disse...

De surpresa em surpresa...
Que bom, Luis, ter-te de volta, e com esta força!
Só tu, para nos fazer sorrir, com a tua visão acutilante e mordaz.
Eu bem sabia que assunto não te faltava...
Tu é que nos tens faltado.
Um beijo

 

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