O que se passou em Chipre
Eu
gostaria de dizer isto em poucas e simples palavras. Porque só temos opiniões próprias
sobre as coisas que entendemos. E, a pretexto da especialização e da
complexidade dos temas, o poder político visa exatamente o contrário: complicá-las
para que as não entendamos. Se não compreendermos o jargão que utilizam não
teremos bases para opinião própria e é quase certo que não reagiremos sobre o
que não entendemos.
Os
bancos eram tradicionalmente instituições que recebiam depósitos e faziam
empréstimos. Dos empréstimos feitos resultavam juros que permitiam pagar juros
mais baicos aos depósitos e ficar com uma parte que representava a remuneração
e o lucro do banco. Esta lógica é simples e fácil de entender. Mas, ao longo do
tempo, a invenção, a ganância do lucro, a falta de escrúpulos e modelos de
gestão perfeitamente criminosos subverteram tudo isto. Com a inestimável
contribuição do Estado, o mais impune ladrão de todos.
Foi
esta prática que levou ao conhecido caso BPN e, depois, ao caso BPP, que o
governo deixou cair, embora permitindo que o seu dirigente máximo se continue a
afirmar de mãos imaculadas, gestor exemplar e a viver num casebre da Quinta da
Marinha, com vista para o mar. E, no caso do BPN, o Estado entrou bom biliões de
euros – dos nossos impostos! - para
depois o vender, naquilo a que chamou um bom negócio, por simples 40 milhões,
ao rei da cortiça e a um seu sócio angolano, do mercado do Roque Santeiro.
Não
cabe na cabecinha arrumada de nenhum de nós fazer hoje um depósito na nossa
conta no banco X (o nome é indiferente, andaram todos na mesma escola, até quem
dirige a pública Caixa Geral de Depósitos) no valor de 1.000 euros e o mesmo
banco, amanhã, nos dizer que só nos dá 800, roubando-nos os outros 200. Sendo
roubo um termo muito forte, que nem a ladrões agrada, a terminologia oficial
fala em “taxa”. E não há um só profissional da dita comunicação social que
diretamente refira o roubo, até porque se sabe quem são os donos das
televisões, das rádios e dos jornais que lhes pagam.
Portanto
o que aconteceu em Chipre foi literalmente isto, excluindo à última hora os
depósitos até 100.000 euros – cerca de 20.000 contos em escudos ou mais de 15
anos de salários mínimos -, independentemente da forma como o dinheiro tivesse
sido ganho, legal ou ilegalmente. E recorde-se que neste Portugalzinho
pequenino, a cair do Cabo da Roca abaixo, o poder instituído já recusou que o
chamado enriquecimento ilícito fosse criminalizado. Ou, por outras palavras, em
Portugal é perfeitamente legal enriquecer ilegalmente. Se assim não fosse os
distintos Oliveira e Costa, Dias Loureiro, Duarte Lima e outros não teriam onde
cair mortos... Tudo gente honesta, no âmbito da ilegalidade permitida pela
legalidade que eles próprios ajudaram a definir. Tudo ladrões condecorados e
celebrados pelo regime!
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