3 de abril de 2013

Salgueiro Maia – Morreu há 21 anos


O tempo é como a vida, passa a correr. De repente, parece que foi ontem à noite, faz 21 anos que Salgueiro Maia morreu. Não o conheci, e deixo aqui apenas um conjunto de três orquídeas, uma flor de que gosto muito, de forma sentida e saudosa. Enquanto no meu peito o sonho e a revolta se confundem e silenciosamente me perfilo perante a sua memória e a grandeza dos actos que praticou em nome do interesse coletivo.



Salgueiro Maia deu corpo ao sonho que mora comigo desde os 18 anos, ou antes. Acreditou que o mundo e o país poderiam ser melhores. Sonhou que todas as crianças podiam ter comida, roupa, calçado, instrução e um futuro digno. Não estando sozinho, é certo, pôs se à frente de um grupo de camaradas de armas, utilizando os meios que tinha ao seu dispor e desceu de Santarém a Lisboa, não forçando ninguém a acompanhá-lo.

O Terreiro do Paço era um deserto onde apenas já se divisava a voracidade mórbida dos abutres, cheirando a morte. E Salgueiro Maia encheu-o com os seus homens, soltando o sonho e a esperança. Mais tarde o resto do regime cair lhe ia aos pés, no Largo do Carmo e ele faria escoltar, até um avião, as múmias que corporizavam a cabeça do regime, com conforto e honra que não mereciam.

Não quis nada para si e recusou tudo, cargos, benesses e honrarias. E foi desde logo, e naturalmente, perseguido em vida. Por  aqueles que se encavalitaram nas suas costas, tentando chegar ao ramo mais alto e ao mais apetitoso e saboroso fruto. O poder político cilindrou-o, não teve uma palavra para lhe dizer, apenas lhe sobrou o pânico para o afastarem e o perseguirem.

Passados 21 anos sobre a tua morte, Fernando, os abutres espreitam na mesma em cada vão do Terreiro do Paço. As crianças, as nossas crianças, têm fome, falta-lhes roupa e calçado, não se lhes dá escola e riscou-se-lhes o futuro do horizonte. Os pais delas são aconselhados a emigrar, como se todos o pudessem fazer, e acumulam-se nos cabazes onde o governo vai arquivando as estatísticas do desemprego. E já não é possível contar nem os cabazes nem os desempregados.

Hipócrita, o poder político evita pronunciar o teu nome, faz tudo para que sejas esquecido. E pela calada da noite vai encavalitando placas com o teu nome às esquinas das travessas nas aldeias da província. Onde moras no coração do povo, que te aplaudiu o sonho e a coragem. E que, como eu, continua a acalentar o sonho e a desenhar a esperança. Para sempre!

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