Um Natal para os meninos de África
Para os meninos de África
não há pinheiros nem caruma espalhada pelo chão. O sol brilha sempre – porque,
na sublime imagem de Albert Camus, em África o mar e o sol são de graça! - e os dias são sempre iguais às noites. Em
África, branco ou preto são apenas a cor da epiderme e os meninos ainda jogam à
bola com uma bola de trapos. Têm um riso franco e estridente e os dentes muito
brancos, sem o excesso civilizado de açúcares e de cáries. Os meninos de África
andam descalços, dão topadas nas pedras dos caminhos, perdem-se no meio dos
capinzais. Tomam banho no rio e secam-se nas margens, à sombra de árvores de
folha perene, enquanto brincam as inocentes brincadeiras deles.
O seu horizonte vai até onde
chega o seu olhar, como a miséria desumana em que crescem e a fome de que se
alimentam. Procurando nos sacos do lixo deixados na beira das ruas, os restos
rejeitados por estômagos fartos de kamanga e de petróleo. Os meninos de África
são universais. Na ignorância a que os condenam e na fome de que apenas os
salvam as intenções e os decretos. E ainda na saudável ingenuidade de se
entregarem sem condições e sem competição. Atrás de rótulos inventados por quem
os condena a um destino fatalista de barriga vazia e pé descalço.
Os meninos de África não
conhecem essa palavra Natal e nunca ouviram falar da Lapónia. Não sabem sequer
que rena é bicho, nem que o Pai Natal viaja de trenó a distribuir prendas,
descendo pelas chaminés. Para eles nem o domingo é dia de descanso, é só mais
um dia de fome. Com a esperança ausente, e a brincadeira desabrida dos simples,
dos ingénuos, dos que não têm maldade. Nem no brilho do olhar nem na pureza
imaculada de corações pequeninos e solidários. Os meninos de África não sabem o
que são prendas, o que são brinquedos, o que é coração.
A sua neve não cai nos cumes
das montanhas nos dias frios de inverno. A sua neve cai com um tempo tropical e
uma temperatura superior a 30 graus, os corpos pingando de suor. A sua árvore
de Natal é um imbondeiro gigante, emergindo grandioso e imponente no meio da
savana. Com zebras, girafas, palancas e outros bichos dispersos na paisagem. E
reunindo em volta todos os muitos meninos, de olhar brilhante e pés descalços.
As mukuas são bolas de cristal penduradas dos ramos, faiscando à luz das
estrelas. Que se colhem e se saboreiam quando se pode e se lhes chega.
Natal não seria nem árvore, nem
prenda, nem brinquedo. Nem doces, nem centro comercial, nem alegria breve.
Natal era só um pão para cada menino, uma caneca de água para beber. Era uma
roupa simples, um sapato barato. Uma
escola, um sistema de saúde, alguns cuidados de higiene. Uma palavra meiga, um
carinho, uma festa na cabeça. Um Deus, sim um Deus. Um Deus omnisciente, um
Deus omnipresente. Porque todos os meninos do mundo são filhos de Deus. E os
meninos esquecidos de África também!
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