3 de janeiro de 2017

Regresso do ano bissexto como quem regressa a casa

Regresso do ano bissexto como quem regressa a casa. Degrau a degrau, fui subindo pelos dias, como se fossem uma escada. Um de cada vez, sabendo que a meta está sempre no fim do nosso olhar. E que há uma coroa de louros à nossa espera. Porque chegar onde se cruzam todos os momentos, é sempre uma vitória, mesmo quando não ganhamos. Uma medalha que nos brilha, pendurada ao pescoço, presa por uma fita toda azul e ouro. Como uma condecoração ou um poema épico. Para diante fica outra distância que se abre, um caminho que ambos vamos descobrir. Voando sobre a brancura das nuvens, com o sol soprando-nos de flanco. Trazendo um calendário novo na ponta do primeiro raio de luz. Todos os anos, mesmo os comuns, começam sempre por Janeiro.



Ergue a tua mão, dedos abertos como uma rosa-dos-ventos apontada ao dia seguinte. Um diamante lapidado faiscando-te no castanho certo e fiel das pupilas. Não sei a cadência a que te bate o coração ou que desejo macio ainda te sobra a meio da manhã. Quando o sol de inverno é um véu nocturno que se estende pelos palcos andaluzes. E no teu peito viceja o ritmo quente do flamenco que se eleva do aço dedilhado das guitarras. Um copo de vinho calando o segredo das gargantas, sem necessidade de palavras. Nem de vinho. Por baixo, o quadriculado mágico da viagem, em suaves tons de verde. Temperado com o sal líquido com que olhas o vazio. Fronteira para o azul que chega de ocidente, trazendo a suavidade da espuma e o destino premeditado dos cardumes. No sabor doce da saliva que respiras.

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