A contar os votos
Então é assim. O presidente
Marcelo decidiu, falou e eu vi o telejornal. Percebi que no dia 30 de Janeiro
havia eleições. Mandei uma mensagem de telemóvel para o número 3838.
Responderam-me. Local de voto: Escola Aurélia de Sousa, Rua Aurélia de Sousa 40.
No dia 30 fui. Deram-me um boletim de voto que tinha o comprimento de meio rolo
de papel higiénico. Não tinha nomes de candidatos nem a primeiros-ministros,
nem a deputados, nem a chefes de turma, nem a nada. Demorei meia hora à procura
do emblema que se parecesse com o meu União da Kalumanda, fiz uma cruz, dobrei
em quatro, meti no caixote. Disse continuação de bom trabalho, vim-me embora,
fui almoçar, dieta mediterrânica.
À noite as eleições
acabaram, fecharam as urnas, foram contar os votos, só para saber o resultado. Quem
tinha ganho, já todas as sondagens tinham dito, faltava só mesmo vir o Marques
Mendes dizer que estava certo e era patriótico, glorificar o país, convocar
para levar a coroa de flores para o túmulo do Afonso Henriques, alugar o
autocarro. O resultado era de 117 a não sei quantos, mas faltavam ainda quatro
minutos dos descontos, penso eu que era, que de política só sei os cinco
violinos e, além deles, o Eusébio da Silva Ferreira.
Agora hoje ouço que afinal
os minutos de desconto ainda não acabaram, o resultado certo ainda se não sabe,
também ainda se não sabe exactamente quem são os 230 deputados, os resultados
ainda não foram publicados, parece que só para a semana. E só depois disso é
que a assembleia será instalada com os seus 230 deputados, novos, engravatados
e patriotas. E elegerá entre pares o presidente, os vice-presidentes, os
secretários, esses cargos que até o Benfica e a União da Kalumanda têm. E então
quem me explica isso que eu, matumbo regressado do mato das ex-colónias –
dignos palopes sem culpa nenhuma – não entendo.
Então a eleição ainda não
acabou, os votos ainda não foram todos contados, ainda se não sabe quem são
todos os 230 deputados, os resultados ainda não foram publicados e estes,
coitados e sem ajudas de custo, já trabalharam tanto? Já indigitaram deputados
para cargos. Já os recusaram. Já indigitaram outros. Já voltaram a rejeitá-los
por voto secreto. Já correram nus atrás do Costa na praia do Meco, com as
ideias ao dependuro atrapalhando-lhes o passo. Já deram a volta ao sol e já se
alinham na campanha para a reeleição. Ora porra!
Então o Marques Mendes ainda
está na sala, sentado na cadeira, a tentar chegar com os pés ao chão e já o
Marquês expulsa os jesuítas dos anéis de Saturno, mandando-os para lá de Plutão?
Este país é mesmo muito à frente, não há universo que lhe escape!
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