29 de outubro de 2022

Mulheres de Atenas

 

Fica-nos um poema sem respiração

Transido de pudor e de silêncio

Com a deselegância ousada das mulheres de Atenas

E o avesso longilíneo da seda natural

Um poema que se disse para Picasso ouvir

Enquanto a mão lhe percorria as ruínas de Guernica

Lá bem do fundo de uma guerra inútil

Sem corpo que restasse para se estender

Sob o cheiro ainda quente da metralha

Os braços decepados

Sem dedos para os anéis e outros adereços

E um anjo inteiro e completo

Voando na sua nuvem branca

A resguardar-lhe a poesia e a memória

Um tal poema que nos fica hoje

E o outro também

O tal poema que queria

Excessivo mas perfeito



 

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