Minha Mãe:
Passados
quinze anos eu não sei como dizer-te todo o vazio que os enche. Todos os
caminhos fechados, todos os momentos intermináveis, todos os sentimentos
parados no tempo.
Com
um dia de sol e a branca pureza de algumas nuvens, fui à Festa Grande para
contar-te. E nada tenho para dizer-te. Com a tua falta nada fica igual, nada
resta para contar, nada faz sentido, nada tem significado.
Tudo
mudou, as pessoas foram partindo, não houve ninguém que eu reconhecesse. A
festa acaba por ser feita de memórias. Da tua, sempre. E das que foram ficando
dos outros. É outra a música que a filarmónica toca, outros os prémios
sorteados na quermesse, até outro o sabor da canela e do limão que enriquecem
os bolos dos andores.
E
mesmo a rutilante beleza do altar-mor da velha igreja continua a perder fulgor.
Resistindo a ser só e mais uma memória.
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