9 de setembro de 2022

Minha Mãe:

 

Passados quinze anos eu não sei como dizer-te todo o vazio que os enche. Todos os caminhos fechados, todos os momentos intermináveis, todos os sentimentos parados no tempo.

Com um dia de sol e a branca pureza de algumas nuvens, fui à Festa Grande para contar-te. E nada tenho para dizer-te. Com a tua falta nada fica igual, nada resta para contar, nada faz sentido, nada tem significado.

Tudo mudou, as pessoas foram partindo, não houve ninguém que eu reconhecesse. A festa acaba por ser feita de memórias. Da tua, sempre. E das que foram ficando dos outros. É outra a música que a filarmónica toca, outros os prémios sorteados na quermesse, até outro o sabor da canela e do limão que enriquecem os bolos dos andores.


E mesmo a rutilante beleza do altar-mor da velha igreja continua a perder fulgor. Resistindo a ser só e mais uma memória.

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