5 de maio de 2024

Dia da Mãe

Regresso muito devagar ao princípio do mundo, até chegar ao apertado aconchego do teu regaço. E descubro que é daí que vem a invenção da luz e o movimento de translação da terra. Antes disso não havia sol e todos os dias eram escuros, sem horas e sem azul por cima. Não havia nem árvores, nem mares, nem pássaros e tudo era quieto como o silêncio. Não havia nem entardecer nem fim do dia. Depois, ao fundo do teu vasto ventre, acendeu-se a luz inicial nas meninas dos meus olhos e inventou-se a vida. E de repente houve oceanos e marés e o barulho das ondas desfazendo-se contra as falésias. Surgiram planícies e montanhas onde nasceram ervas e abriram flores, cresceram árvores e voaram pássaros. A terra começou a girar à sua volta e daí nasceu a noite para descanso dos olhos e para descoberta das estrelas.

Depois, na palma da tua mão, deram-se os primeiros passos e descobriu-se o equilíbrio, e com isso se abriram os primeiros caminhos e se mediram ainda pequenas distâncias. Com a terra plana e com Galileu ainda sem saber quando e onde nascer, sempre o teu rosto foi espelho de todos os sorrisos e porto de abrigo para todos os peregrinos. Deve ter sido das grandes peregrinações que vieram os maiores desafios e ainda a necessidade da invenção da escrita, para falarmos de amor a quem mora longe, para lá da noite e do dia seguinte. Quando consegui caminhar sozinho julguei-me dono do mundo, como se os rios e as cidades e todas as coisas me tivessem sido oferecidos quando decidiram celebrar o dia dos meus anos. Mas, por detrás de tudo, manteve-se sempre a sombra protetora do teu corpo franzino e a imensa sensatez das tuas palavras iluminando o horizonte.

Quando pensei que voava, desprovido de asas, tão logo tropecei. E tu tão longe, na imensidão longínqua da savana, ali estavas de repente, ao meu lado, com o amparo do teu braço e o estímulo do teu conselho, a trazer nova luz à certeza dos meus passos. Girassol ereto indicando-me o rumo certo. Sempre de sorriso aberto como se eu estivesse ainda para nascer. Depois foi-se encurtando o caminho e pesando os anos. Mas nunca deixaste de sorrir, de ter a boca doce de palavras, de passar a tua mão carinhosa pela cinza dos meus cabelos. Foi por aí que verdadeiramente te senti universal. Como se fosses mais do que coisa minha e representasses a Mãe de todos. Hoje, a Mãe de todos e de todos os dias.

 

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