2 de abril de 2024

Mensagem de Jesus depois da Páscoa

Como a vida acelera e como o tempo passa depressa. Ainda quase ontem era Natal e eu, menino, nas mãos do prior, estendia o pezinho ao beijo devoto dos fiéis na nave da igreja. E entretanto eis-me com trinta e três anos, mais todos os das celebrações já decorridas, depois da preparação recatada da quaresma e da travessia dolorosa da semana santa, aqui de novo, ressuscitado, precisado de algum descanso para recobrar energias e abalançar-me a mais um recomeço. Tendo de desculpar-me pelo silêncio em que me mantive, encarcerado no silêncio da sacristia, esperando que chegasse o equinócio da Primavera, a lua cheia e o primeiro domingo depois dela.

Foi farta a última ceia, na quinta-feira santa. Comeu-se, bebeu-se e soltou-se a língua a quase todos os que se sentavam à mesa. Tem muitas vezes esse efeito o uso imoderado da bebida, revelando aquilo que a dissimulação conseguiu ocultar durante a longa caminhada. Confirmaram-se os bons amigos, revelaram-se os que me iludiam e que acabaram pior trair-me a coberto de uma falsa e prolongada lealdade. Foi de jejum e recolhimento a sexta-feira da paixão, sem gestos e sem palavras, meditando sobre os excessos da véspera, levando-me ao calvário e à crucificação. Pode não ser um destino que se segue mas apenas uma missão que me foi atribuída e que se cumpre.

Foi de aleluia e ressurreição o sábado e de celebração o domingo. Aquele primeiro domingo depois da lua cheia que houve após o equinócio, que nos levou a reunir de novo, a exteriorizar uma incontida alegria até ali amordaçada. E que me permitiu ir pelas ruas fora, visitar a casa de cada um, compartilhar do seu alimento e do seu vinho, aceitar o seu contributo, registar as suas queixas e os seus anseios. Sempre à espera de chegar à tua morada, de ter-te à porta aguardando a minha chegada, de sentir o fogo cruzado do teu olhar doce e macio a demorar-se no meu peito e a ficar, de todo incapaz de ir-se embora. E chegar cansado ao fim da jornada, carregado de oferendas, pleno de promessas, cheio de convicções e de certezas. Para manter acesa esta chama que arde no meu peito.

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