10 de dezembro de 2003

O azar de uns é a sorte de outros

O nosso Dr Barroso é um homem de sorte, em todos os sentidos. Quando pedia pareceres ao professor Marcelo, consultava videntes e cientistas africanos, ia aos domingos à missa das onze para se encontrar com os influentes da paróquia e tinha, religiosamente, a bíblia à cabeceira, as intenções de votos dos portugueses não faziam dele um ganhador e continuavam a preferir as falinhas mansas do Eng Guterres. Isto a avaliar pelas sondagens que, naturalmente, dão sempre o resultado que mais convem a quem as encomenda que também é quem paga. Na assembleia zurzia-se o Dr Barroso como líder da oposição pela frouxidão com que actuava, pela falta de convicção das suas intervenções, pela fraqueza dos seus argumentos. No seu próprio partido se comentava que, assim, nunca mais lá iriam. E alguns, mais afoitos, perguntavam-se mesmo como poderia um homem daqueles ter feito a sua formação no grande partido do Dr Garcia Pereira, vendo-se que era tão fraquinho quando por aquela escola só passavam os melhores.

Depois houve um terramoto numa inesperada noite de tempestade. Quando o Eng Guterres deu por ela tinha o governo, as autarquias que controlava e o partido feitos em cacos. Nem pensou duas vezes que farto daquilo andava ele, há mais de dois anos a tentar sozinho, sem saber como, a quadratura do círculo. E vai daí, demitiu-se e anunciou a sua retirada para a freguesia de Donas, no Fundão, para uma cura de sono e um período de repouso. O partido e os muitos "boys" que patriótica e generosamente tinham aderido, a troco de pequenas benesses, ficaram em estado de choque e temeram o pior. Com razão, que os ordenados, os carros de serviço e os cartões de crédito perfilavam-se para mudar de donos.

Sem grande surpresa o Dr Barroso ganhou as eleições, por falta de comparência da equipa adversária mas sem a ajuda do árbitro nem da comissão de disciplina da liga de clubes. Encheu o peito e rapidamente fez outro governo. Mudou os "boys", os ordenados, os carros de serviço e os cartões de crédito. E passou a dizer que estava tudo mal, que não era culpa dele, ele nem sequer era de cá, tinha estado muito tempo nas terras do tio Sam. E que agora seriam precisos grandes sacrifícios para que tudo ficasse ainda pior, como graças a Deus tem vindo a ficar. Nem o tacto ou o sentido de estado dos Drs Arnault e Sarmento têm conseguido inverter a situação. No parlamento os esforços do deputado Dr Gonçalo Capitão, figura saída das estórias do Walt Disney como o pato Gastão, têm sido em vão.

Para sorte sua tem tido a mesma aguerrida oposição que no passado ele próprio garantiu ao Eng Guterres. Quer dizer, nenhuma! O Dr Ferro bem se esforço, mudou de penteado e de óculos, arranjou um cão e passou a ser visto a passeá-lo pela rua abaixo, com ligeiras paragens para que o canino pudesse alçar a perna numa qualquer árvore do passeio que o Dr Santana ainda não tenha mandado abater, sabendo de antemão o arquitecto Ribeiro Teles ocupado a brincar com os netos. Mas a sorte foi-lhe madrasta. Um juiz contestado por meia dúzia de VIP's foi buscar-lhe o porta-voz e manteve-o preso por uns tempos. O Dr Ferro falou em tudo, até em cabala, que é um termo que não vai muito com o semi-analfalbetismo da malta, e fez do processo o fulcro da sua luta política. Pelo meio, e enquanto se clamava contra tudo e contra todos, até o cão desapareceu e foram precisos anúncios nos jornais para o trazer de volta.

Agora, quando se mantinha calado em relação ao processo e em relação ao resto, quando já ninguém afirmava que só dizia disparates, quando quase estava esquecido a não ser na tribuna do Alvalade XXI - onde para esquecer continuam a ser os resultados! - sai-lhe um "cromo" do governo regional dos Açores a andar de boca em boca. Não perdeu tempo e demitiu-se para desatar aos berros a falar em manipulação política e a queixar-se da cabala. O Dr Ferro disse que não era nada consigo, distribuiu cartões de visita com a morada do Sr Carlos César e aproveitou para dar um salto à Serra da Estrela.

Com azar, porra! Então não é que nevou e o carro que o transportava ficou atascado na neve. Não se queixou para não ter que falar de novo nem em cabala, nem em manipulação política. Mas tenciona interpelar o governo sobre as condições e as épocas em que se permite que neve na serra e que os viajantes se atasquem. O Dr Figueiredo Lopes esfrega as mãos de contente. E pensa, ao menos com isto não me chateiam com a Brigada de Trânsito para cujo comando ainda tenho que convidar algum sargento-ajudante!

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