Arranja-me um emprego

Por limite de idade, no partido, passou aos seniores. Ensaiou palavras de ordem, slogans eleitorais, fez o esquisso de cartazes, foi eleito deputado, chegou de novo a presidente. Sempre com o seu inseparável amigo de peito, Paulo Portas, a dar-lhe a sombra protectora e o itinerário para o paraíso. Até que este, cansado da sacristia e aspirando ao sabor requintado dos doces de convento se rebelou. Em Braga, terra de tão antigas tradições cristãs, à vista do cónego Melo. A revolução triunfou, o Dr Monteiro perdeu o emprego, não recebeu a indemnização que lhe era devida e incompatibilizou-se com o patrão.
Fez a travessia do deserto do Sahara, para lá e para cá, sem um cantil de água com que pudesse dessedentar-se, sem um camelo que lhe pudesse dar descanso às pernas, sem um oásis onde, para além de piscinas de águas tépidas pudesse haver algumas odaliscas para o relaxamento. De regresso a casa recebeu, às dez da noite, uma chamada telefónica de um conhecido banco da nossa praça a oferecer-lhe um crédito pessoal em condições que nem sequer dá para acreditar. Aceitou, mas sob condição: não poderia nunca revelar à Deco que condições eram essas, de que beneficiava.
Meteu ombros à tarefa de fundar um partido novo em tudo. Na designação, nos estatutos, nos militantes, no projecto. Até ele iria mudar. Começou pelos óculos e da roupa interior nada se sabe, mas há quem assegure que usa boxers com o twetee estampado, a amarelo, na braguilha. Começou por se candidatar a presidente do novo partido e, de seguida, a eleger-se.
Daí para cá, realmente, tudo mudou. O Dr Monteiro é imparável e onde as câmaras de televisão chegam apenas um conhecido adepto do Futebol Clube do Porto consegue chegar-se à frente antes dele. Quase todas as semanas consegue beneficiar de seis linhas num dos jornais que se publicam. Na manhã do último domingo, à saída da missa, foi mesmo cumprimentado com deferência por dois casais de reformados. A filha de um vizinho do andar de baixo trata-o carinhosamente por padrinho e o porteiro do prédio onde mora insiste em curvar-se à sua passagem e em trata-lo por "senhor presidente". Dá-lhe alento!

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