15 de fevereiro de 2004

Porto sentido. Porto seguro.

A baixa do Porto, aos fins de semana, está deserta. Pouco falta para que o esteja também aos dias de semana. As pessoas que aí moram contam-se pelos dedos ou pouco mais. As ruas mais emblemáticas, em termos tradicionais, estão cheias de edifícios em ruínas e de lojas fechadas que, entretanto, faliram. A cidade tornou-se perigosa durante o dia e, muito mais, durante a noite. O Dr Rio, seguindo as pisadas do Dr Gomes, seu antecessor mas associado de um outro clube, fala em revitalizar a baixa. Por revitalização entende-se cada vez mais a ressurreição dos mortos mas, ao que parece, para o efeito o Dr Rio tem o mesmo jeito que o Dr Gomes. Quer dizer, nenhum! A única revitalização visível é a da prostituição. Progressivamente as raparigas de cinquenta anos e de ancas largas a não caberem nos modelos XXL das mini-saias têm cedido o lugar a jovens de leste em que só não cabe nas mini-saias aquilo que elas não querem. O ataque é em pleno dia, durante as horas de expediente porque, como se disse, à noite a cidade está abandonada. Fazem a quem passa sempre a mesma pergunta, certamente por falta de vocabulário: vamos?

Não se vê um polícia, a não ser daqueles que a câmara põe na rua e que têm um tabuleiro de damas, a verde e branco, pintado nos bonés. Da PSP, nem sombras. Dizem os maldizentes que estão para o Iraque, a libertá-lo e a manter a paz que se sabe. Fiscais civis, de trânsito, a aplicar multas nos parcómetros, há muitos. Contratados a prazo ou a passar recibo verde. De resto o condutor é livre como em nenhuma outra cidade, Lisboa incluída. Pode conduzir enquanto usa dois telemóveis ao mesmo tempo e vai ainda deitando o rabo do olho para as pernas das garinas que se saracoteiam rua abaixo. Ninguém o incomoda, lhe chama a atenção, o autua. Pode atropelar livremente, nas passadeiras ou fora delas, e seguir descansado ao seu destino. Se fôr preciso alguém há-de ter a ideia de chamar o 112 para seguir para as urgências ou para a morgue. Sendo ambas da alçada do ministro Pereira, não há filas de espera em nenhuma delas. Só nos centros de saúde há uma extensa fila de espera mas é de médicos. Em falta!

Mas hoje, domingo, ao início da tarde, a cidade deu por si mais do que segura. Um a dois polícias em cada esquina, de apito na boca como se fossem apitar o Benfica - Porto. E treinando para isso, soltando silvos agudos e prolongados, como se fossem mostar cartões vermelhos. Porquê? Porque a baixa ia ser palco de filmagens relacionadas com o Euro 2004 e o trânsito era preventivamente desviado para itinerários alternativos. Quem veio de longe, como de Gaia ou Matosinhos, para amanhã poder dizer no emprego que no fim de semana tinha ido ao Porto, sentiu-se frustrado, e com razão. Mal conseguiu ver as montras gradeadas da Zara e por pouco o não deixavam subir as escadas rolantes do Via Catarina.

Quer dizer, a polícia só realmente se apercebeu do risco quando as equipas de filmagens anunciaram vir para a baixa. E aí encheu as ruas. Senti-me confortado. O Porto é sentido para o Rui Veloso, é seguro para mim. Mas esses tais das filmagens, com todo este aparato policial, devem ser uns bardinos que nem sei. Seguramente uma cambada de ladrões e de malfeitores de que a cidade não tem memória. A avaliar pela forma como se protegeu!

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