O que o governo faz, fá-lo pelo melhor
Dos alentejanos contam-se muitas anedotas com as quais, supomos, os mesmos se divertem muito mais do que quem as conta. Esta passa-se, como muitas, à hora da sesta, num dia de canícula, na planície heróica, à sombra protectora do chaparro. Dois compadres vão intervalando a sonolência persistente com o diálogo breve. E diz um deles, mais dado a divagações filosóficas: ó compadre então você já viu, tudo o que Deus faz é pelo melhor. Veja aqui, com um sol abrasador destes, no meio da planície, Deus fez nascer este chaparro grande, protector, a cuja sombra nos acolhemos e onde, ao fresco, passamos pelas brasas.
O outro, naturalmente, concorda. É mesmo assim, nem sequer é por falta de argumentos que não replica. E vai intercalando os monossílabos da sua concordândia com os polissílabos dos seus roncos. Eis senão quando um pardalito cansado de esgaravatar se vem também acolher à copa do chaparro, num ramo alto. Necessidade fisiológica que afecta todos, até mesmo os pardais, solta-se e larga na cabeça do primeiro compadre aquilo a que, por falta de melhor termo, chamaremos simplesmente uma cagadela.
Sem se perturbar, perfeitamente no ritmo e no tom dos roncos do companheiro do lado, o primeiro compadre prossegue nas suas divagações filosóficas e exclama: não há dúvidas! Realmente tudo o que Deus faz, fá-lo pelo melhor. Ó compadre você já imaginou o que seria se as nossas vacas voassem?
Confessamos que chegámos a ter dúvidas a esse respeito, mas dissipámo-las. O nosso Governo - e merece aqui letra maiúscula! - é como Deus: tudo o que faz, fá-lo pelo melhor. Mesmo quando qualquer dos seus membros se empoleira, como sempre, muitos galhos acima de nós e nos caga no alto da cabeça está a velar pelo nosso bem estar, pela nossa satisfação - aquela mesma que o eurobarómetro vem depois dizer que não existe - e pela promissora resplandecência do nosso futuro. Vale-nos, naturalmente, que o governo não utilize aviões F-16 em formação ordenada, como se fosse a esquadrilha Asas de Portugal, a largar aquele cone muito aberto de fumos coloridos.
Mas tudo isto parece não ter nada a ver com o crescimento regular, certo e persistente do desemprego que já fez com que o Dr Bagão Felix passasse a ser visita assídua de casa do Dr Durão Barroso, para o café depois do jantar. Mas a verdade é que tem tudo a ver. Porque o desemprego, afinal, não é fatalidade nenhuma. Bem pelo contrário. O desemprego corresponde a uma forma afincada e consciente do governo promover a formação profissional e tornar cada desempregado num potencial polivalente. Os nossos desempregados são os mais qualificados da Europa e metem inveja à mais arrogante civilização ariana. Têm diplomas das mais diversas e esquisitas licenciaturas como comércio internacional, marketing, guarda-livros criativos. E exercem as mais ajustadas funções como caixas de supermercado, picheleiros, monitores de artes marciais.
Alguém há-de, algum dia, não sabemos nem onde, nem quando, fazer justiça ao iluminado governo que nos conduz. Porque afinal vem criando desemprego apenas para reciclar os desempregados que daí resultam. E que aí estão, os mais e melhor qualificados da Europa. Enquanto os do Sr Chirac não sabem mais do que falar francês e o Sr Carvalho da Silva persiste em não entender a meritória acção do ministério!
O outro, naturalmente, concorda. É mesmo assim, nem sequer é por falta de argumentos que não replica. E vai intercalando os monossílabos da sua concordândia com os polissílabos dos seus roncos. Eis senão quando um pardalito cansado de esgaravatar se vem também acolher à copa do chaparro, num ramo alto. Necessidade fisiológica que afecta todos, até mesmo os pardais, solta-se e larga na cabeça do primeiro compadre aquilo a que, por falta de melhor termo, chamaremos simplesmente uma cagadela.
Sem se perturbar, perfeitamente no ritmo e no tom dos roncos do companheiro do lado, o primeiro compadre prossegue nas suas divagações filosóficas e exclama: não há dúvidas! Realmente tudo o que Deus faz, fá-lo pelo melhor. Ó compadre você já imaginou o que seria se as nossas vacas voassem?
Confessamos que chegámos a ter dúvidas a esse respeito, mas dissipámo-las. O nosso Governo - e merece aqui letra maiúscula! - é como Deus: tudo o que faz, fá-lo pelo melhor. Mesmo quando qualquer dos seus membros se empoleira, como sempre, muitos galhos acima de nós e nos caga no alto da cabeça está a velar pelo nosso bem estar, pela nossa satisfação - aquela mesma que o eurobarómetro vem depois dizer que não existe - e pela promissora resplandecência do nosso futuro. Vale-nos, naturalmente, que o governo não utilize aviões F-16 em formação ordenada, como se fosse a esquadrilha Asas de Portugal, a largar aquele cone muito aberto de fumos coloridos.
Mas tudo isto parece não ter nada a ver com o crescimento regular, certo e persistente do desemprego que já fez com que o Dr Bagão Felix passasse a ser visita assídua de casa do Dr Durão Barroso, para o café depois do jantar. Mas a verdade é que tem tudo a ver. Porque o desemprego, afinal, não é fatalidade nenhuma. Bem pelo contrário. O desemprego corresponde a uma forma afincada e consciente do governo promover a formação profissional e tornar cada desempregado num potencial polivalente. Os nossos desempregados são os mais qualificados da Europa e metem inveja à mais arrogante civilização ariana. Têm diplomas das mais diversas e esquisitas licenciaturas como comércio internacional, marketing, guarda-livros criativos. E exercem as mais ajustadas funções como caixas de supermercado, picheleiros, monitores de artes marciais.
Alguém há-de, algum dia, não sabemos nem onde, nem quando, fazer justiça ao iluminado governo que nos conduz. Porque afinal vem criando desemprego apenas para reciclar os desempregados que daí resultam. E que aí estão, os mais e melhor qualificados da Europa. Enquanto os do Sr Chirac não sabem mais do que falar francês e o Sr Carvalho da Silva persiste em não entender a meritória acção do ministério!
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial