A revolta e o protesto
Eu sei que escrever na primeira pessoa deixa sempre o rasto de um certo pretensiosismo. Mas também sinto que isso dá uma outra convicção às ideias e às palavras. De forma que hoje é deliberadamente que o faço. É verdade que sendo sexta-feira, dia 13 ainda por cima, deveria logo de manhã ter tido a sensatez de ficar na cama, tapar a cabeça com os cobertores, não ouvir rádio, nem ler jornais, nem sequer ver televisão. Não fiz nada disto, a gente não acredita em bruxas mesmo quando está farto de saber que as há e pronto, foi o que se viu.
O Instituto Nobel norueguês divulgou uma lista de nomeados para o Prémio Nobel da Paz 2004 que, pelos vistos, é mais longa do que as alegações do juiz Rui Teixeira no caso Carlos Cruz. Graças a Deus que ainda não tive acesso à sua versão integral, mas o que já soube bem me chega. Não me apoquenta muito que não tenham nomeado o Sr José Castelo Branco, a D Cinha Jardim ou a D Pureza Teixeira da Cunha. Acho até que o Papa João Paulo II, mais do que o prémio, ambicionaria que o ouvissem algumas vezes e em algumas coisas. Quanto à União Europeia não percebi bem se tinha sido nomeada pela união dos seus membros, se pela intransigância na defesa dos mais atrasados.
Não quero fazer comentários à nomeação dos Srs Bush e Blair. Bastam as centenas de milhar de mensagens de protesto que hão-de fazer transbordar todos os fiordes. Mas não posso calar a injustiça e tenho que me revoltar. Não posso abafar a revolta e tenho que protestar. Não posso admitir como honrado português que não seja incluído no baralho o Dr Durão Barroso, depois dos sacrifícios que nos exigiu e da acção, determinante, que desenvolveu.
O Dr Barroso cedeu gratuitamente os Açores para um encontro que lá se realizou e a que chamaram cimeira. E se não foi gratuitamente, pelo menos foi sem factura, contra o que a Dra Manuela Leite recomenda. Dispôs-se a ir propositadamente de Lisboa para dar o seu conselho sábio e desinteressado. Deixou-se ficar sempre para trás para se proteger da eventual investida de qualquer tresmalhada vaca leiteira, ida de barco da ilha de S. Jorge. Falou inglês com os dois, correcto e quase sem sotaque que quase parecia o Dr Jorge Sampaio. Falou castelhano com o Sr Aznar, sorriu nas conferências de imprensa, para as câmaras de televisão e para as criancinhas. Disse que sim, que dava o seu acordo para que fossem libertar o Iraque, mesmo que tivesse que ser à força e contra vontade dos iraquianos. E regressou ao continente a rezar padres nossos e a lamentar que o Sr Carlos César ainda não tenha perdido as eleições na região.
Trouxe-nos a todos nós, que residimos no continente e que confiamos cegamente na convicção com que nos aldraba, provas irrefutáveis de que o Sr Saddam era um perigo para o mundo e para as Berlengas. Exibiu documentos que evidenciavam que o Iraque dispunha de armas de inimaginável poder destrutivo, conservadas em petróleo e enterradas a seiscentos metros de profundidade. Falou de fotografias de pipe-lines que as transportavam além fronteiras. Mostrou bilhetes postais de petroleiros, com comandantes gregos na ponte de comando, cujas entranhas quase rebentavam da fartura de crude negro, a camuflar químicas que fariam de Lavoisier um principiante. Declarou-se aliado e manifestou-se contrário às posições de kamasutra do Sr Chirac. Foi um valente, quase como quando militava no MRPP e andava a pintar paredes de braço dado com o Dr Pacheco Pereira.
Quando o Sr Bush veio dizer que a guerra tinha acabado ele não se lhe opôs e achou que estava bem. Sentiu-se que o mundo estava muito mais seguro e tinha o eixo sobre o qual gira como se fosse novo. Nunca mais no Iraque houve desavenças ou atentados. Nenhum impulsivo árabe virou o rabo para os soldados americanos e levantou o raio das saias para o mostrar. O Dr José Lamego arranjou emprego e emigrou, vestindo calças desportivas e camisas D'assenta, recebendo em euros, a seu pedido. Para que a paz se não alterasse, mandou para lá a GNR que logo ao segundo dia teve de cavar a terra árida do deserto para trazer o Sr Saddam à superfície. Ajudou a fazer-lhe a barba com creme de barbear Gillette e penteou-lhe os cabelos que metiam nojo. Não lhe pôs gel porque ele não quis e lavou-lhe os dentes com pasta Colgate. Manteve-o amarrado de pés e mãos durante os interrogatórios, não fosse ele magoar-se sozinho. Teve sempre o cuidado de embrulhar em pano turco os objectos com que lhe foi dando alguma porrada para lhe soltar a língua. Mandou lá um ministro vivo, de carne e osso, mesmo que politicamente já fosse tão plástico com o perú que o Sr Bush lá foi servir.
E tudo para quê? Para nada. Para agora, mais uma vez, nos sentirmos marginalizados como pequeno país que somos. Vermos a nossa auto-estima igual à dos sportinguistas depois de terem sido eliminados da taça pelo Vitória de Setúbal. Ou à dos benfiquistas depois daqueles sete do Celta de Vigo, galegos do catano. Não está certo! Dêem o prémio a quem quiserem, faça-lhes muito bom proveito, guisem-no com batatas, metam-no num sítio que eu cá sei. Por mim, se lá estiverem os Srs Bush ou Blair, garanto que não vou à Noruega. Nem integrado na comitiva do Dr Jorge Sampaio.
O Instituto Nobel norueguês divulgou uma lista de nomeados para o Prémio Nobel da Paz 2004 que, pelos vistos, é mais longa do que as alegações do juiz Rui Teixeira no caso Carlos Cruz. Graças a Deus que ainda não tive acesso à sua versão integral, mas o que já soube bem me chega. Não me apoquenta muito que não tenham nomeado o Sr José Castelo Branco, a D Cinha Jardim ou a D Pureza Teixeira da Cunha. Acho até que o Papa João Paulo II, mais do que o prémio, ambicionaria que o ouvissem algumas vezes e em algumas coisas. Quanto à União Europeia não percebi bem se tinha sido nomeada pela união dos seus membros, se pela intransigância na defesa dos mais atrasados.
Não quero fazer comentários à nomeação dos Srs Bush e Blair. Bastam as centenas de milhar de mensagens de protesto que hão-de fazer transbordar todos os fiordes. Mas não posso calar a injustiça e tenho que me revoltar. Não posso abafar a revolta e tenho que protestar. Não posso admitir como honrado português que não seja incluído no baralho o Dr Durão Barroso, depois dos sacrifícios que nos exigiu e da acção, determinante, que desenvolveu.
O Dr Barroso cedeu gratuitamente os Açores para um encontro que lá se realizou e a que chamaram cimeira. E se não foi gratuitamente, pelo menos foi sem factura, contra o que a Dra Manuela Leite recomenda. Dispôs-se a ir propositadamente de Lisboa para dar o seu conselho sábio e desinteressado. Deixou-se ficar sempre para trás para se proteger da eventual investida de qualquer tresmalhada vaca leiteira, ida de barco da ilha de S. Jorge. Falou inglês com os dois, correcto e quase sem sotaque que quase parecia o Dr Jorge Sampaio. Falou castelhano com o Sr Aznar, sorriu nas conferências de imprensa, para as câmaras de televisão e para as criancinhas. Disse que sim, que dava o seu acordo para que fossem libertar o Iraque, mesmo que tivesse que ser à força e contra vontade dos iraquianos. E regressou ao continente a rezar padres nossos e a lamentar que o Sr Carlos César ainda não tenha perdido as eleições na região.
Trouxe-nos a todos nós, que residimos no continente e que confiamos cegamente na convicção com que nos aldraba, provas irrefutáveis de que o Sr Saddam era um perigo para o mundo e para as Berlengas. Exibiu documentos que evidenciavam que o Iraque dispunha de armas de inimaginável poder destrutivo, conservadas em petróleo e enterradas a seiscentos metros de profundidade. Falou de fotografias de pipe-lines que as transportavam além fronteiras. Mostrou bilhetes postais de petroleiros, com comandantes gregos na ponte de comando, cujas entranhas quase rebentavam da fartura de crude negro, a camuflar químicas que fariam de Lavoisier um principiante. Declarou-se aliado e manifestou-se contrário às posições de kamasutra do Sr Chirac. Foi um valente, quase como quando militava no MRPP e andava a pintar paredes de braço dado com o Dr Pacheco Pereira.
Quando o Sr Bush veio dizer que a guerra tinha acabado ele não se lhe opôs e achou que estava bem. Sentiu-se que o mundo estava muito mais seguro e tinha o eixo sobre o qual gira como se fosse novo. Nunca mais no Iraque houve desavenças ou atentados. Nenhum impulsivo árabe virou o rabo para os soldados americanos e levantou o raio das saias para o mostrar. O Dr José Lamego arranjou emprego e emigrou, vestindo calças desportivas e camisas D'assenta, recebendo em euros, a seu pedido. Para que a paz se não alterasse, mandou para lá a GNR que logo ao segundo dia teve de cavar a terra árida do deserto para trazer o Sr Saddam à superfície. Ajudou a fazer-lhe a barba com creme de barbear Gillette e penteou-lhe os cabelos que metiam nojo. Não lhe pôs gel porque ele não quis e lavou-lhe os dentes com pasta Colgate. Manteve-o amarrado de pés e mãos durante os interrogatórios, não fosse ele magoar-se sozinho. Teve sempre o cuidado de embrulhar em pano turco os objectos com que lhe foi dando alguma porrada para lhe soltar a língua. Mandou lá um ministro vivo, de carne e osso, mesmo que politicamente já fosse tão plástico com o perú que o Sr Bush lá foi servir.
E tudo para quê? Para nada. Para agora, mais uma vez, nos sentirmos marginalizados como pequeno país que somos. Vermos a nossa auto-estima igual à dos sportinguistas depois de terem sido eliminados da taça pelo Vitória de Setúbal. Ou à dos benfiquistas depois daqueles sete do Celta de Vigo, galegos do catano. Não está certo! Dêem o prémio a quem quiserem, faça-lhes muito bom proveito, guisem-no com batatas, metam-no num sítio que eu cá sei. Por mim, se lá estiverem os Srs Bush ou Blair, garanto que não vou à Noruega. Nem integrado na comitiva do Dr Jorge Sampaio.
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