Os portugueses são um bocado para o exagerado
Socorremo-nos daquilo que temos à mão e que usamos com frequência diária: a sexta edição do Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora. Daí transcrevemos, omitindo as abreviaturas que, neste caso, entendemos serem dispensáveis:
Arrasar, verbo transitivo. Tornar raso; aplanar; nivelar; igualar; demolir; destruir; arruinar; encher até aos bordos; fatigar excessivamente; humilhar; abater-se; arruinar-se; estragar-se; decair.
Nunca é demais, por mais recorrente que isso possa ser, insistir em questões que são fundamentais. Os portugueses têm uma tendência atávica e doentia para o exagero que, vindo a acentuar-se nos nossos dias, já vem de longe. Tão de longe como a relação atribulada com a sua própria língua e, de um modo geral, com todos os seus símbolos, sejam eles positivos ou negativos.
A relação com a língua portuguesa, então, é um desastre. A todos os níveis. O que, nos dias que correm, apenas consegue surpreender os professores e o ministério da educação. O ministro, como se sabe, confessa a surpresa, abre a boca de espanto e, de seguida, anuncia a última e derradeira reforma. Aquela que finalmente e de uma vez por todas vai resolver todas as maleitas, melhorar as notas nas escolas e pôr toda a gente a ler os romances dos senhores Saramago e Lobo Antunes. Entretanto os espanhóis com menos possibilidades financeiras, que se vêem coagidos a visitar-nos pela Páscoa, regressam convencidos de que os portugueses adoptaram, como língua oficial, um inglês meio cavernoso que se não fala em sítio nenhum. Nem no Texas!
A falta de rigor, em tudo, é uma constante nacional. Orgulhamo-nos dela e erguemo-la como se fosse uma bandeira que desfraldamos ao vento. O ministro Marques Mendes, pequeno no tamanho, é grande nos atrasos. Os espectáculos deviam começar na altura em que os guitarristas ainda substituem as cordas dos instrumentos e os afinam em acordes isolados. Parte-se do Porto às onze horas para estar numa reunião, em Lisboa, ao meio dia. Como se a auto-estrada do norte permitisse a mesma velocidade com que os astronautas andam à volta da terra. Mesmo que haja cada vez mais quem o tente.
O uso da língua rege-se pelos mesmos parâmetros: pela descuidada falta de rigor e pela ostensiva ignorância. Quem se quiser aperceber disso basta que ouça os noticiários da rádio, veja os das televisões e atente nos títulos dos jornais. Ainda hoje, na primeira página, o Público titula: Tribunal de Contas arrasa gestão do Metro de Lisboa. E, na chamada que faz à primeira página, não se fica por menos: a última auditoria não podia ser mais esmagadora: falta de maturidade e rigor e descontrolo praticamente constante.
Quanto ao título! É óbvio que o omnisciente Tribunal de Contas encheu até aos bordos a gestão do Metro de Lisboa que, naturalmente, terá sido forçada a transbordar. Como se crê que o túnel do Terreiro do Paço continua inundado, o transbordo sobrará directamente para o leito do Tejo. Vai causar dificuldades à navegação, à entrada da barra e afastar, na enxurrada, os peixes que tardiamente o subissem para a desova. Depois disso, uma auditoria esmagadora de certeza que pesa quase tanto como o Rainha Maria Dois que, dias atrás, passou por debaixo da ponte. Já os mimos com que é distinguida a gestão, não são excessivos. É o que dá o governo nomear clientes de cartão, imberbes, imaturos e, como vimos repetindo, sem a mínima noção do que seja rigor. Atributo que, ao menos, é do domínio do Tribunal de Contas! Nem sequer o descontrolo conseguiu ser constante e uniforme, foi sendo como dava mais jeito ou como saía em sorte na praça de touros de Santarém: descontrolo aqui, controlo acoli!
Talvez por isso se diga frequentemente, com um ar de erudição alarve, que a língua portuguesa é muito traiçoeira. E é!
Arrasar, verbo transitivo. Tornar raso; aplanar; nivelar; igualar; demolir; destruir; arruinar; encher até aos bordos; fatigar excessivamente; humilhar; abater-se; arruinar-se; estragar-se; decair.
Nunca é demais, por mais recorrente que isso possa ser, insistir em questões que são fundamentais. Os portugueses têm uma tendência atávica e doentia para o exagero que, vindo a acentuar-se nos nossos dias, já vem de longe. Tão de longe como a relação atribulada com a sua própria língua e, de um modo geral, com todos os seus símbolos, sejam eles positivos ou negativos.
A relação com a língua portuguesa, então, é um desastre. A todos os níveis. O que, nos dias que correm, apenas consegue surpreender os professores e o ministério da educação. O ministro, como se sabe, confessa a surpresa, abre a boca de espanto e, de seguida, anuncia a última e derradeira reforma. Aquela que finalmente e de uma vez por todas vai resolver todas as maleitas, melhorar as notas nas escolas e pôr toda a gente a ler os romances dos senhores Saramago e Lobo Antunes. Entretanto os espanhóis com menos possibilidades financeiras, que se vêem coagidos a visitar-nos pela Páscoa, regressam convencidos de que os portugueses adoptaram, como língua oficial, um inglês meio cavernoso que se não fala em sítio nenhum. Nem no Texas!
A falta de rigor, em tudo, é uma constante nacional. Orgulhamo-nos dela e erguemo-la como se fosse uma bandeira que desfraldamos ao vento. O ministro Marques Mendes, pequeno no tamanho, é grande nos atrasos. Os espectáculos deviam começar na altura em que os guitarristas ainda substituem as cordas dos instrumentos e os afinam em acordes isolados. Parte-se do Porto às onze horas para estar numa reunião, em Lisboa, ao meio dia. Como se a auto-estrada do norte permitisse a mesma velocidade com que os astronautas andam à volta da terra. Mesmo que haja cada vez mais quem o tente.
O uso da língua rege-se pelos mesmos parâmetros: pela descuidada falta de rigor e pela ostensiva ignorância. Quem se quiser aperceber disso basta que ouça os noticiários da rádio, veja os das televisões e atente nos títulos dos jornais. Ainda hoje, na primeira página, o Público titula: Tribunal de Contas arrasa gestão do Metro de Lisboa. E, na chamada que faz à primeira página, não se fica por menos: a última auditoria não podia ser mais esmagadora: falta de maturidade e rigor e descontrolo praticamente constante.
Quanto ao título! É óbvio que o omnisciente Tribunal de Contas encheu até aos bordos a gestão do Metro de Lisboa que, naturalmente, terá sido forçada a transbordar. Como se crê que o túnel do Terreiro do Paço continua inundado, o transbordo sobrará directamente para o leito do Tejo. Vai causar dificuldades à navegação, à entrada da barra e afastar, na enxurrada, os peixes que tardiamente o subissem para a desova. Depois disso, uma auditoria esmagadora de certeza que pesa quase tanto como o Rainha Maria Dois que, dias atrás, passou por debaixo da ponte. Já os mimos com que é distinguida a gestão, não são excessivos. É o que dá o governo nomear clientes de cartão, imberbes, imaturos e, como vimos repetindo, sem a mínima noção do que seja rigor. Atributo que, ao menos, é do domínio do Tribunal de Contas! Nem sequer o descontrolo conseguiu ser constante e uniforme, foi sendo como dava mais jeito ou como saía em sorte na praça de touros de Santarém: descontrolo aqui, controlo acoli!
Talvez por isso se diga frequentemente, com um ar de erudição alarve, que a língua portuguesa é muito traiçoeira. E é!
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